Comemorado todo 20 de junho desde o início dos anos 2000, o Dia do Refugiado celebra diversas instituições e ativistas que refletem a coragem de pessoas que deixam seu local de origem para viver em situação de refúgio em outros países devido a perseguições relacionadas à sua raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opinião política.
Em Roraima, a AVSI Brasil administra cinco espaços de acolhimento em parceria com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e o Exército Brasileiro por meio da Operação Acolhida, resposta humanitária a venezuelanos que vivem no Brasil. Como é o caso de Nancy Flores, que fugiu do seu país devido à crise socioeconômica.
“Eu vi a movimentação que os migrantes faziam para cá [Brasil] e não pensei duas vezes antes de cruzar a fronteira com a minha filha, que na época estava com 15 anos. Cheguei no Brasil em agosto de 2021 e mesmo com tantas dificuldades, foi a melhor decisão que poderia ter tomado, já que era impossível continuar morando na Venezuela”, contou a refugiada.
Nancy Flores é pintora e migrante refugiada que vive atualmente no abrigo indígena Waraotuma a Tuaranoko. Começou sua viagem para o Brasil vindo de uma comunidade indígena próxima à Gran Sabana, em Santa Elena de Uairen – Venezuela, na companhia de sua filha, que é indígena Taurepang, o que lhe permitiu viver naquela comunidade até o momento em que decidiu emigrar.
“Cheguei em Pacaraima, fomos para o BV8 e começamos a fazer o processo de refúgio no PITRIG. Enquanto esperávamos uma resposta de abrigamento, conseguimos ser acolhidas em uma comunidade indígena do povo macuxi, depois fomos enviadas para Boa Vista, onde inicialmente ficamos no extinto abrigo Tancredo Neves, até chegarmos onde vivemos hoje”, disse Nancy.
Ela também conta que o principal motivo de cruzar a fronteira foi pela filha e pela necessidade que ela tinha de estudar. Atualmente, a adolescente estuda na rede estadual de Roraima e aguarda uma oportunidade para iniciar sua vida profissional por meio do projeto jovem aprendiz. “A primeira coisa que fiz quando cheguei em Boa Vista foi procurar vagas em escolas para minha filha, pois emigramos em busca de um futuro melhor para ela. O Brasil abriu os braços para os migrantes venezuelanos e só tenho a agradecer por isso, explicou.
Para Nancy, a principal barreira enfrentada foi o idioma, pois ela tinha dificuldade para aprender o português, mas não deixou que isso a desanimasse, pelo contrário, aquele obstáculo era a força que ela precisava para querer ir para a escola.
“Onde morei na Venezuela, não tive oportunidade de estudar, pois era uma área rural voltada para o turismo e artesanato. Portanto, quando cruzei a fronteira, não conseguia entender o que a equipe que me recebeu no PITRIG em Pacaraima estava falando, nem eles a mim. Agora, já estou falando um -portunhol- e aos poucos as pessoas vão me entendendo melhor” explicou.
Pintora, mãe, migrante e refugiada foram as palavras que Nancy usou para se descrever. Com os estudos iniciados e a adaptação em Roraima, a artista conta que não deseja mais ir embora do estado como era o plano inicial quando chegou ao Brasil “eu queria ir para Santa Catarina, mas na época não havia o processo de interiorização para os indígenas. Hoje eu já estou há um tempo aqui e apesar daqui ser quentinho, desejo fazer parte da família roraimense, quero fazer ensino superior e me estabelecer aqui, alugar uma casa e trabalhar”.
Em Boa Vista, Nancy tenta viver da venda de seus quadros e no futuro deseja ter seu estúdio de arte, apesar da dificuldade que tem encontrado no estabelecimento de seu negócio, tem sonhado com o momento em que seu trabalho terá maior reconhecimento.
“Quero ter meu próprio negócio, ter contato com o público e ter meus clientes. Quero que as pessoas se encantem com minhas obras e que valorizem meu trabalho. Muitas pessoas dizem para ir para o Rio de Janeiro, mas quero ficar aqui”, finalizou.
Gestão de Abrigos e Assistência Multissetorial à População Venezuelana
O projeto Gestão de Abrigos e Assistência Multissetorial a Venezuelanos foi desenvolvido com o objetivo de contribuir para o acesso a serviços básicos e respeito aos direitos humanos de pessoas refugiadas e migrantes venezuelanas. A iniciativa é financiada pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e integrada à Operação Acolhida, resposta do Governo Federal, em parceria com agências das Nações Unidas e organizações da sociedade civil.
Mais sobre o Abrigo Indígena Waraotuma a Tuaranoko
O espaço emergencial, acolhe mais de 1.500 beneficiários, majoritariamente da etnia Warao, atendendo às suas diferentes especificidades, como unidades habitacionais maiores com exaustores para melhor circulação de ar, redários, cozinhas coletivas com fogão a lenha, área de lazer para crianças, quadras esportivas, entre outros. Além disso, para tornar a comunicação mais efetiva, o abrigo conta com um tradutor e intérprete de sua língua nativa, que traduz do espanhol e do português para o warao e vice-versa.
Por tratar-se de um abrigo indígena, o requisito de acolhimento é ser indígena, seja por comprovação documental ou ter vivido em comunidade indígena no país de origem. No abrigo, a rotina dos refugiados é organizada principalmente através dos comitês nas atividades cotidianas: limpeza, distribuição de alimentação, educação, saúde, comunicação, esporte e infraestrutura.