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Famílias venezuelanas apoiadas pelo projeto Acolhidos alcançam maiores taxas de integração e empregabilidade no Brasil

A Pólis Pesquisa realizou uma análise de dados sobre o apoio oferecido pelo projeto Acolhidos e os resultados do processo de integração socioeconômica de venezuelanos no Brasil

Iniciado em 2019, o projeto Acolhidos Por Meio Do Trabalho apoia o processo de interiorização (deslocamento voluntário) de famílias venezuelanas, realizado pela Operação Acolhida do Governo Federal, partindo de Roraima para outros estados brasileiros. A atividade atua como resposta humanitária do para o fluxo migratório de pessoas venezuelanas no Brasil, incentivando a integração socioeconômica das famílias no país.

Em Boa Vista, capital de Roraima, são oferecidos serviços emergenciais para atenção aos direitos humanos dos imigrantes, como abrigamento e regularização documental. Contudo, a baixa oferta de empregos no estado torna a estratégia de interiorização essencial para a inclusão na sociedade e no mercado de trabalho.

Com foco na integração e empregabilidade, o projeto Acolhidos é implementado pela Associação Voluntários para o Serviço Internacional — Brasil (AVSI Brasil), em conjunto com o Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH) e em parcerias com agências internacionais. A partir dos pilares acolher, proteger, promover e integrar, a iniciativa busca a construção da autonomia de refugiados e migrantes por meio da capacitação profissional e da inclusão no mercado de trabalho formal.

Pelo projeto, há o auxílio por duas modalidades de interiorização: 1) por Vaga de Emprego Sinalizada (VES), com a saída de abrigos em Boa Vista–RR para cidades brasileiras já com oferta de emprego formal; 2) e institucional (abrigo-abrigo), partindo de Boa Vista–RR para Brasília–DF, com destino no centro de acolhida Casa Bom Samaritano (CBS), espaço de cogestão da AVSI Brasil e IMDH. Em ambos os casos, os refugiados e migrantes recebem apoio assistencial durante três meses para o desenvolvimento da autonomia no Brasil.

Nesse contexto, foi analisada a atuação das atividades realizadas na segunda fase do projeto Acolhidos, entre 2021 e 2023, sobre o efeito do processo de integração socioeconômica de pessoas refugiadas e migrantes venezuelanas no Brasil. Ao total, foram entrevistadas 659 pessoas venezuelanas, representadas entre aquelas que foram interiorizadas (seja por VES ou pela modalidade institucional) e aquelas que permaneceram em Boa Vista.

INTERIORIZAÇÃO: UMA ROTA DE OPORTUNIDADES

Os dados apresentados na pesquisa de avaliação fazem um comparativo entre as modalidades de interiorização, indicando haver uma forte associação entre a empregabilidade e o processo de deslocamento voluntário, refletidos na independência financeira das famílias apoiadas pelo projeto.

Com base na análise, é possível observar que a taxa de refugiados e migrantes venezuelanos atuando em um emprego formal (carteira assinada) aumenta de 5% para 65,8%, quando interiorizados. O número reflete as baixas oportunidades de trabalho em Roraima, devido ao grande fluxo migratório de pessoas venezuelanas na região.

Entre as pessoas interiorizadas, 59,7% informaram que se sentem aptas a escolher as ofertas de emprego; já entre as pessoas não interiorizadas, apenas 20,1% afirmaram positivamente. Este dado faz uma projeção sobre a autonomia e confiança de pessoas venezuelanas no mercado de trabalho brasileiro.

Quando observado o rendimento médio de trabalho entre pessoas interiorizados, o valor sobe de R$ 1.119,00 (em Boa Vista) para R$ 1.830,00 (em outras cidades do país), representando um aumento de 63,5% por pessoa. Sob o efeito do passar dos meses no Brasil, o processo de interiorização favorece a inserção laboral de outros membros da família, havendo um crescimento do número de pessoas trabalhando no grupo familiar e/ou em domicílios ao longo do tempo.

Em um comparativo entre modalidades para o rendimento médio familiar, os refugiados e migrantes venezuelanos interiorizados por VES tiveram melhores resultados de empregabilidade e em relação à modalidade por abrigo, apresentando um valor de R$ 3.560,00 para VES e de R$ 2.774,00 para Abrigo-CBS.

MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO

O projeto Acolhidos atua com empresas intermediando a contratação de refugiados e migrantes no Brasil. Considerando os parceiros dos anos de 2021 até 2023, a pesquisa indica que os setores com maior empregabilidade de imigrantes são: agroindústria (43,8%), serviços em hotéis, bares e restaurantes (19,5%) e construção civil (14,2%).

A respeito do grau de satisfação com o trabalho, 74,5% das famílias apontavam estar satisfeitas com o trabalho em 2021. Esse número saltou para 89,5% no segundo momento (2023), demonstrando que a satisfação laboral aumentou no decorrer do tempo, por meio de uma perspectiva de carreira ou outras orientações.

EDUCAÇÃO E PROFISSIONALIZAÇÃO

Apesar do progresso econômico e social, a integração vai além do emprego propriamente dito. Refugiados e migrantes ainda esbarram nas barreiras linguísticas, culturais e sociais, sendo o aprendizado da língua portuguesa e o acompanhamento especializado um facilitador para a integração dos imigrantes em redes locais.

Segundo a pesquisa, a proficiência em português é uma variável que impacta a empregabilidade, uma vez que pessoas com proficiência mediana-alta no idioma apresentaram chance 7,8 vezes maior de ter tido uma experiência de trabalho no Brasil do que aquelas com proficiência mediana-baixa.

Assim, as ações do projeto Acolhidos também concentram esforços no ponto de partida: em Boa Vista–RR. Direcionado à educação e qualificação laboral de pessoas acolhidas em abrigos gerenciados pela AVSI Brasil, são ofertados gratuitamente cursos de português e profissionalizantes.

Com cursos para as mais diversas áreas de atuação, as aulas são geralmente realizadas no Centro de Capacitação e Educação (CCE), construído em 2021, por meio de um acordo de cooperação entre a Força-Tarefa Logística e Humanitária (FT Log Hum) da Operação Acolhida e o projeto Acolhidos. A cogestão do CCE incentiva a formação profissional de refugiados e migrantes venezuelanos como apoio no processo de inserção no mercado de trabalho e integração social dessa população em território brasileiro.

Os primeiros meses de assistência são cruciais para a construção de um sistema de apoio, com a articulação de atores locais, fortalecendo a integração de famílias venezuelanas no Brasil. Isso resulta em um aumento na autonomia dos grupos familiares, na integração social nos municípios de destino, na qualificação educacional e até mesmo na percepção de satisfação e felicidade no país, de dignidade e acesso aos direitos humanos.

CENTRO DE ACOLHIDA — CASA BOM SAMARITANO (CBS)

Pensado como um ponto estratégico para a integração de famílias venezuelanas no Brasil, resultado da parceria com a Operação Acolhida, o centro de acolhida Casa Bom Samaritano atua no acolhimento para o desenvolvimento social e econômico de famílias de venezuelanos refugiados e migrantes no processo de interiorização para Brasília–DF.

O imóvel conta com a gestão da AVSI Brasil e do IMDH, sendo um espaço cedido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) ao projeto Acolhidos Por Meio Do Trabalho. A CBS conta com 18 quartos/dormitórios, cozinha equipada, refeitório, lavanderia, brinquedoteca, salas de aula para cursos, auditório e plataforma elevatória para Pessoas com Deficiência (PcD), desta forma, sendo um espaço de morada e de qualificação profissionalizante a partir de oficinas, palestras e cursos ofertados.

Neste ponto, a pesquisa indica que mais de 80% das pessoas entrevistadas apontaram ter tido um nível ótimo de suporte à apresentação de vagas de trabalho, apoio na preparação do currículo e preparação para possíveis entrevistas de emprego.

Atuando em colaboração com o setor privado do Distrito Federal, principalmente o do ramo de serviços ou atendimentos, a CBS consegue fazer a inserção dos acolhidos em diversas empresas, como supermercados, restaurantes, hotéis e construção civil.

Ambas as modalidades desempenham papéis essenciais para a integração socioeconômica de refugiados e migrantes venezuelanos no Brasil. Por meio das atividades do projeto Acolhidos, é possível reforçar a importância de uma abordagem aprofundada e multissetorial, a fim de atender às demandas que surgem ocasionadas pela migração de venezuelanos que buscam no Brasil uma oportunidade de reconstrução de suas vidas.

O PROJETO ACOLHIDOS

As atividades do projeto Acolhidos Por Meio Do Trabalho são implementadas pela AVSI Brasil e Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), com financiamento do Escritório de População, Refugiados e Migração dos Estados Unidos (PRM).

O projeto contribui para fortalecer as ações da Operação Acolhida e conta com o apoio estratégico da Fundação AVSI e AVSI-USA, Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), Organização Internacional para as Migrações (OIM) e Rede Brasil do Pacto Global.