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Diego Calíquio

Meu nome é Diego Calíquio, nasci em Santa Luzia...

Meu nome é Diego Calíquio, nasci em Santa Luzia, região metropolitana de Belo Horizonte (MG), onde vivi por 19 anos. Meus pais eram semianalfabetos, porém incentivavam fortemente meus estudos para que eu e meu irmão tivéssemos um futuro melhor.

Minha infância foi marcada pela constante presença da violência na comunidade. Com isso, era comum presenciar vizinhos andando de viatura e policiais frequentemente abordando moradores, inclusive crianças.

O contato com um mundo marcado pela normalidade da criminalidade fez com que eu, aos 13 anos de idade, me envolvesse com as drogas e com traficantes, onde comecei trabalhando como “fogueteiro” e “olheiro”, para avisar aos chefes do crime sobre intromissões policiais e invasões de gangues inimigas.

Ao longo de minha adolescência, desenvolvi a dependência à cocaína e com isso passei a participar de furtos, assaltos a mão armada e a atentados contra a vida de outras pessoas. Minha vida passou a ser motivada pelo vício, pela ganância e pela busca à ostentação, não me importando com as consequências.

Ainda menor de idade, fui suspeito de diversos crimes e cheguei a ser detido em um departamento de operações para menoresQuando completei a maioridade, estava jurado de morte. Então, minha família resolveu se mudar para a cidade de Itaúna para recomeçar a vida, longe de todos os meus problemas. Entretanto, os sentimentos de ódio e vingança eram mais fortes, e eu continuei no mundo do crime.

Não tardou muito para que eu fosse preso e, entre idas e vindas no presídio, segui reincidindo.  Por medo, nunca fugi, mas continuei realizando operações ilegais de dentro da prisão, onde manipulei agentes e a segurança externa para ter regalias, como drogas, mulheres e revistas mais brandas a meus visitantes.

Um dia, Valdeci, o diretor-executivo da FBAC, e Beto, gerente de metodologia da FBAC, visitaram o presídio e anotaram nomes de pessoas que queriam ir para APAC. Meu companheiro de cela indicou meu nome e logo fui selecionado para ser transferido.

Eu nunca manifestei interesse em ser transferido para uma APAC devido a quantidade de regras, mas minha mãe acreditava na metodologia como uma chance de me ver recuperado. Minha mãe, sempre terna e carinhosa, nunca deixou de me visitar e sempre me motivava a ser uma pessoa melhor. O amor materno foi o fundamental para suportar a vida carcerária.

Eu me encontrava num momento de profunda desmotivação. Havia perdido muitos entes queridos, como meu pai e meus avós. Minha família estava sendo massacrada, pouco a pouco, minha mãe estava sofrendo, e eu não estava lá para ajudar. Quando fui transferido para a APAC, vi na oportunidade uma chance de tranquilizar minha família e já entrei na unidade prisional com um propósito de mudança.

Quando cheguei à APAC, fiquei impressionado ao ver pessoas que havia conhecido no presídio, me recebendo com a chave do local nas mãos, limpos, barbeados e bem vestidos. Além disso, as pessoas me chamavam pelo nome e me recebiam de forma muito acolhedora, apesar de sentir um pouco de receio inicial por parte das pessoas, devido ao meu histórico criminal e minha fama de falta de disciplina.

Aos poucos fui vivendo e aceitando a metodologia. O ponto fundamental para meu propósito de mudança foi quando participei da Jornada de Libertação com Cristo, onde encontrei na fé as forças que precisava. Junto ao amor incondicional de minha mãe, que nunca deixou de me aceitar, a religião foi a chave para a minha recuperação. Quando temos um objetivo de transformar nossa vida, temos que encontrá-lo em alguém e em nossos corações.

Após o cumprimento da minha pena, tive oportunidade de trabalhar como voluntário e funcionário em algumas APACs em Minas Gerais. E posteriormente, recebi um convite da FBAC para participar do processo seletivo de Encarregado de Disciplina e Segurança no Maranhão. Fui aprovado e me mudei ao estado, onde estou até hoje.

Eu não quero deixar de trabalhar com APACs, pois para mim o trabalho faz parte do processo de recuperação, o ofício traz força e inspiração para continuar no caminho do bem e divulgar a minha história. É uma forma de inspirar outras pessoas a seguirem o caminho do bem e de aumentar a própria responsabilidade de ter forças para continuar caminhando.

Desde que encontrei a APAC, minha vida foi restaurada e meus sentimentos de raiva e ódio foram substituídos por amor e gratidão. Desde então, nunca mais utilizei drogas ou fiz uso de bebidas. Reconheço que errei muito, mas que existe amor em meu coração para compartilhar com outras pessoas. Hoje me vejo como um missionário da metodologia.

 

A AVSI Brasil contribui para a disseminação da metodologia APAC por meio dos projetos Superando Fronteiras e Multicountry.