Em 2018, quando a crise humanitária da Venezuela gerou um aumento no número de refugiados e migrantes no Brasil, a AVSI Brasil foi desafiada a atuar com a emergência humanitária pela primeira vez.
Ao chegar no Brasil, a população migrante e refugiada precisa de um apoio que vai além de um teto para morar. A dificuldade de compreensão da língua é um dos maiores desafios identificados assim que chegam, além disso, todo o processo de regularização de documentos, compreensão dos direitos de um refugiado e busca de emprego em um território diferente geram medo, ansiedade e insegurança.
Desta forma, sendo fiel à missão de ter como objetivo central o desenvolvimento do indivíduo independentemente de sua situação de dificuldade enfrentada, a AVSI deu o primeiro passo para atuação nesse novo cenário.
Ao lado das Forças Armadas do Brasil, a AVSI Brasil iniciou a atuação em Roraima em parceria com ACNUR (Agência da ONU para os Refugiados). Há 3 anos, a atuação conjunta das duas organizações já impactou a vida de cerca de 26 mil pessoas, segundo o último Relatório Operacional da ACNUR. Essa assistência para as pessoas que foram forçadas a se deslocar é o primeiro passo para que os migrantes e refugiados se tornem protagonistas da sua própria história em um novo país.
Parceria que transforma
O papel da agência da ONU em Roraima inclui, entre outras questões, o suporte no monitoramento de fronteira, registro de refugiados e migrantes, abrigamento da população mais vulnerável, gerenciamento dos abrigos, distribuição de produtos não alimentícios, gestão de iniciativas para integração local e apoio à estratégia de interiorização – programa federal de realocação voluntária de refugiados e migrantes venezuelanos para outros estados do país.
Frente a esta realidade, a AVSI apoia, com mais de 120 colaboradores, a atuação do ACNUR em atividades como o processo de cadastramento e documentação de refugiados e migrantes até a interiorização, a gestão de abrigos, o desenvolvimento de atividades formativas e culturais. Contamos também com uma equipe que colabora com a proteção de crianças e adolescentes que ingressam no país sem a presença de responsáveis.
“Este ano, completamos três anos de parceria com o ACNUR, e devo dizer que tem sido uma parceria que cresceu muito pelo propósito humanitário de ambos e também pela determinação de suas equipes. Nos sentimos efetivamente numa parceria, fundamentada no trabalho, respeito e admiração mútua”, destaca o gerente geral da AVSI em Roraima, Heli Mansur.
Os projetos desenvolvidos em conjunto contemplam o gerenciamento dos abrigos localizados nas cidades de Boa Vista e Pacaraima, em Roraima, e a viabilização da interiorização de venezuelanos. A parceria foi concretizada por meio do projeto de Gestão de Abrigos e Assistência Multissetorial a Venezuelanos, que iniciou as atividades em 2018 com o objetivo de contribuir para o acesso a serviços básicos e respeito aos direitos humanos da população venezuelana em busca de acolhida.
No início, o projeto contemplou 3 abrigos em Boa Vista. Atualmente, a iniciativa conta com 6 espaços de acolhimento: Rondon 1, Rondon 2, Rondon 3, São Vicente 1 e Pricumã, em Boa Vista, e BV8, no município de Pacaraima.
A venezuelana Deglymar Dell Valle, que chegou ao Brasil em 2019, conta que a sua situação melhorou após entrar para o abrigo Rondon 3: “a recepção no abrigo foi boa. A adaptação à rotina é difícil, mas as pessoas das equipes fizeram ser mais fácil e leve. São ótimas pessoas que nos ajudaram muito”.
Durante o ano de 2020, mais de 7.000 venezuelanos e venezuelanas foram acolhidos nos abrigos geridos pela AVSI. Ao todo, foram mais de 15.000 pessoas beneficiadas pelo projeto desde o início da parceria com o ACNUR nas cidades de Boa Vista e Pacaraima. Além disso, estima-se que 10.000 pessoas tenham sido beneficiadas nas outras inciativas vinculadas ao programa.
Para Fabrizio Pellicelli, diretor-presidente da AVSI Brasil, essa atuação conjunta na temática humanitária é vista de forma muito positiva e com o entusiasmo de estar proporcionando oportunidades e soluções originais para o repertório do trabalho no âmbito da migração.
Já na interiorização, a parceria acontece através do projeto Acolhidos por meio do trabalho, onde o ACNUR apoia a prospecção de vagas e entrevistas de emprego com venezuelanos refugiados. Mais de 700 pessoas já foram interiorizadas de Roraima para 8 estados brasileiros, desde o início do projeto em 2020.
