Crise econômica, trabalho em contexto de violência juvenil e convivência com o semiárido foram alguns dos temas discutidos
As mudanças e oportunidades em meio à crise econômica que afeta o Brasil marcaram a palestra de abertura do segundo dia do Encontro Anual 2016. Na contramão do discurso negativo recorrente no país, a AVSI Brasil está enfrentando esse contexto de forma positiva.
Como esclarece o diretor presidente, o diferencial está nas pessoas que compõem a instituição. “O nosso capital humano é fundamental. Temos uma capacidade de agir muito própria, não aguardando algo de fora que possa resolver a crise. Sofremos algumas mudanças, mas a crise é algo que praticamente não nos afetou”, ressaltou Fabrizio Pellicelli.
Sobre perspectivas futuras para se manter em pé diante desse contexto, fica claro que é preciso reposicionar a organização. “Precisamos nos recolocar, fixados na nossa missão, buscando colaborações e parcerias novas em contextos desconhecidos, que se tornarão familiares. Valorizar as relações que temos, mas também ir em busca de novos parceiros”, conclui Pellicelli.
Nos painéis temáticos do segundo e terceiro dia, as discussões abordaram temas de interesse da organização, seja pelos grandes desafios enfrentados no trabalho cotidiano, ou pelo fato de representar uma oportunidade para de mostrar a riqueza da nossa atuação.
Violência juvenil
A mesa sobre o trabalho em contexto de violência juvenil contou com o professor José Eduardo Santos, quefalou sobre o temapartir da memória e da beleza. Ele considera que “primeiro é preciso recuperar o humano dessas pessoas. A violência desumaniza, tira a memória. É preciso educar a um senso de memória, a um senso de beleza. Isso provoca um senso de futuro”.
Sobre uma resposta dos projetos a esse contexto de violência, padre Emilio Bellani, complementa afirmando que “é preciso olhar para o outro não como uma ameaça, mas como um recurso. Você é algo de bom para mim e, por isso, me dedico a você”.
A discussão foi concluída com o depoimento emocionado de Jackson Conceição, que contou sua trajetória pelos projetos da AVSI em Novos Alagados, no subúrbio de Salvador, foi vai da passagem pela Creche João Paulo II até o curso profissionalizante do CEDEP. “Concluo minha fala com o que aprendi com meu professor José Eduardo: ‘eu moro na favela, mas não sou um favelado’. Isso significa ser diferente. A escolha pelo caminho certo foi por causa das grandes pessoas que eu estava ao lado, pessoas que eram do bem, pessoas que acolhiam a gente”.
Convivência com o Semiárido
Nesse painel, o diretor de desenvolvimento social da Fundação Banco do Brasil, Rogério Bressan Biruel, apresentou a atuação da instituição, incluindo as tecnologias sociais que permitem a convivência com o Semiárido, como a construção de cisternas. Nesse sentido, Biruel afirma que “a participação da Fundação no vetor água na prática tem mudado o panorama do Semiárido brasileiro”.
A parceria com a AVSI Brasil está permitindo uma continuidade aos benefícios proporcionados pela Fundação BB, por meio da construção do sistema de bioágua, que reaproveita a água do uso doméstico e serve para irrigar o solo dos quintais produtivos dos pequenos agricultores.
A colaboradora Adriana Gouveia, especialista no assunto, ressaltou que o bioágua traz três tipos de benefícios: para o meio ambiente, a agricultura e as pessoas, com a melhora na qualidade de vida.
Já Cícero Félix dos Santos, coordenador da ASA (Articulação com o Semiárido Brasileiro), instituição que tem como missão promover a convivência com o Semiárido, lembrou que “a lógica que prevaleceu no semiárido por muito tempo foi a do combate, não a da convivência. Quando a gente começou a dialogar com os poderes e ver que era possível romper com essa lógica do combate, fomos desafiados a mostrar a viabilidade desse paradigma da convivência. Estamos no caminho certo. Podemos sim garantir direitos para a população do semiárido”.
AVSI no Peru
A colaboração da AVSI Brasil para a filial da Fundação AVSI no Peru foi o tema apresentado pela assessora da diretoria, Paula Alves, que destacou a importância de oferecer a expertise da organização brasileira para a peruana e o crescimento que essa troca tem proporcionado a todos os envolvidos nessa colaboração regional.
O gerente de projetos no Peru, Martino Frigerio, apresentou um pouco do contexto peruano e detalhou a iniciativa com agricultores do café Curibamba. “O ponto fundamental do projeto são os produtores não são as técnicas que nós entregamos, portanto a nossa abordagem com eles não pode ser baseada em apenas passar uma informação técnica, mas fazer um acompanhamento, se manter perto deles e também dos financiadores.
Cooperação internacional
A AVSI Brasil desenvolve em alguns estados projetos quem contam com o financiamento da União Europeia (UE). Para discutir com o público presente as estratégias da UE, a cooperação regional e no Brasil, foi realizada a videoconferência com Dania Tondini, responsável pelo relacionamento com a UE por parte da Fundação AVSI, na Itália.
Para ela, “cada projeto com a UE não é apenas uma atividade que começa e termina, mas sobretudo é também uma oportunidade para fazer conhecer a AVSI e conhecer melhor a UE”. É muito importante ter isso em mente quando nos relacionamos com os funcionários da União Europeia e também durante a execução do projeto”, afirma.
Educação à caridade
A Creche Luigi Giussani foi o tema do último painel temático do evento, mediado por Lareyne Almeida, gerente geral na Bahia e presidente da Associação Dom Giussani, que permite o funcionamento da instituição.
As palavras da coordenadora pedagógica Nilzete Silva e um vídeo sobre a rotina da obra educativa, elaborado de maneira voluntária pelo diretor, roteirista e editor Alex Sousan, permitiram aos presentes conhecer mais de perto o trabalho desenvolvido com amor e dedicação às 120 crianças que diariamente são acolhidas na creche.
A formação das educadoras da creche, realizada pela experiente coordenadora pedagógica Gisele Hensel e pelo padre Emilio Bellani também foram alvo de discussão. De forma voluntária, uma vez por mês, eles se encontram com a equipe da instituição e transmitem valiosos conhecimentos sobre educação infantil, tanto em termos técnicos, quanto em se tratando da valorização humana, fundamental para a educação integral das crianças.
Por fim, a assessora da diretoria, Paula Alves, convidou os colaboradores para participar de um projeto piloto de voluntariado corporativo desenvolvido pela AVSI Brasil. A ideia é que os colaboradores dediquem um turno por mês em alguma atividade na creche Giussani.
O objetivo dessas discussões foi renovar entre os colaboradores o convite à caridade, à doação de si ao outro e, assim, contribuir para o bem do próximo, por reconhecer que ele é um bem para si próprio.
Conclusões
Um espaço de debate foi aberto para que os colaboradores pudessem expressar o que significou participar dos 3 dias do Encontro Anual e, sobretudo, o que irão levar consigo e transmitir a suas equipes no retorno ao trabalho.
O secretário geral da Fundação AVSI, Giampaolo Silvestri, realizou uma síntese do evento e chamou a atenção para alguns temas que merecem ser aprofundados por todos após o evento, no trabalho cotidiano.
“A nossa diversidade no modo de fazer as coisas tem que ser percebida pelos beneficiários, pelos parceiros e por todos os atores envolvidos através da ação que fazemos. O valor adicional, a contribuição ao bem comum, nós podemos dar através dos projetos, por meio da forma como pensamos e principalmente como os executamos. Dentro do que fazemos, temos que demonstrar o que dizemos, que o homem não está sozinho, que somos uma companhia, que estamos disponíveis a esta relação com o outro”, reforça Silvestri.
Para concluir, o diretor presidente, Fabrizio Pellicelli, ressaltou que um fator positivo do evento é o fato de permitir intuir perspectivas futuras. “Saímos daqui com uma hipótese muito clara e razoável, temos alguns caminhos para seguir e um deles é esse de contribuir ao bem da pessoa e ao bem comum com o instrumento que nós temos nas mãos: o nosso trabalho.