“Fui uma criança muito feliz em Barquisimeto a cidade musical da Venezuela. Tive uma infância normal, com brinquedos, festinhas de aniversário, material escolar e presentes no Natal. Quando cresci e percebi que não conseguiria proporcionar o mesmo para os meus filhos, decidi sair do meu país e tentar a vida em outro lugar”, relata a venezuelana Yaneth Corina, 34.
Junto a essas lembranças, Yaneth carrega ainda um trauma que sofreu durante sua segunda gravidez, ocasionado por um parto de risco que quase lhe tirou a vida. “Depois do segundo filho, e com as complicações no parto, decidi que não queria mais engravidar. Só que após cinco anos, mesmo tomando todas as precauções, fiquei grávida novamente e tive muito medo de passar por tudo aquilo mais uma vez”, desabafa. Foi então que em 2018, grávida de oito meses, ela decidiu migrar para o Brasil, junto com o marido e os dois filhos. “A nossa situação também já estava ficando insustentável. Não conseguíamos mais nos manter com nossos salários”, disse.
No Brasil, foi acolhida na casa de uma família brasileira, em Boa Vista, onde morou por cinco meses. “Na nossa caminhada, Deus manda anjos para nos abençoar e essa mulher foi um anjo. Ela me recebeu na sua casa, onde morava com as netas. Me ajudou muito. Também tive a felicidade de contar com o apoio de outra brasileira que esteve sempre por perto. Foi como se eu estivesse com a minha família”, relata emocionada. “Sou grata ao povo brasileiro. Conheci pessoas muito bondosas, com bom coração e que me ajudaram no momento que mais precisei”, diz.
Versatilidade
Com um perfil ativo profissionalmente, Yaneth trabalha desde os 14 anos. Vendeu roupas, trabalhou numa corretora de seguros, foi analista contábile iniciou a faculdade de Castelhano e Literatura. Depois de casada, também trabalhou dando aulas de coreografia e dança, e fez trabalhos sociais com jovens e crianças, na Venezuela. Já no Brasil, ela fez um curso de empreendedorismo onde aprendeu a costurar. Em seguida trabalhou como educadora social, atuando com crianças em Boa Vista.
Hoje ela integra o grupo de facilitadores dos cursos de português para venezuelanos nos abrigos da Operação Acolhida. A iniciativa faz parte do projeto Acolhidos por meio do trabalho, que visa apoiar a integração de venezuelanos no Brasil. Yaneth trabalha diariamente no Rondon 1, abrigo que comporta atualmente 600 migrantes e refugiados venezuelanos.
Mesmo com o acolhimento recebido quando chegou ao Brasil, a venezuelana relata muitas dificuldades com o idioma português, pois confundia muitas palavras. Então começou a ler e ouvir músicas brasileiras para adquirir a fluência. Segundo ela, para o venezuelano, o idioma é uma barreira muito grande. “Fazer um curso de português é como atravessar uma ponte que dará acesso a muitas oportunidades para um futuro melhor. É importantíssimo”, avalia.
Yaneth tem muitas expectativas para a vida no Brasil. “Meu objetivo agora é proporcionar mais qualidade de vida aos meus filhos e garantir o crescimento pessoal deles. Quero dar tudo o que foi privado antes. E mais adiante também pretendo seguir os estudos em pedagogia ou direito, áreas que me identifico muito”, planeja a venezuelana.
O projeto
O Acolhidos por meio do Trabalho é implementado pela AVSI Brasil e Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), com o envolvimento da Fundação AVSI e AVSI-USA e financiado pelo Departamento de População, Refugiados e Migração (PRM) do Governo dos EUA. Entre as principais ações, o projeto prevê a colocação no mercado de trabalho e interiorização de venezuelanos adultos com suas famílias, além da colocação no mercado de trabalho de brasileiros em situação de vulnerabilidade social; e cursos preparatórios vinculados ao mercado de trabalho e de língua portuguesa e formação em direitos e deveres laborais, entre outros aspectos Conheça mais ações do projeto neste link