A cidade de São Paulo recebeu a segunda Vila Reencontro, iniciativa destinada a famílias em situação de rua. Localizada na Ladeira da Memória, no Anhangabaú, a Vila é fruto de uma parceria entre a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) e a Associação Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI Brasil). Com 40 módulos de 18m² equipados com banheiro; pias; cama de casal ou beliches e berços; geladeira; fogão; e guarda-roupa, o projeto tem por objetivo o acolhimento e a reconstrução da autonomia e a saída qualificada da situação de rua. Ao todo, a Vila, inaugurada nesta quinta-feira (18), tem capacidade para abrigar até 160 pessoas.
A inauguração contou com a presença do prefeito Ricardo Nunes e do secretário de Assistência e Desenvolvimento Social, Carlos Bezerra Jr. além do diretor-presidente da AVSI Brasil, Fabrizio Pellicelli; do representante da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), Davide Torzillie; e diversas autoridades governamentais e da sociedade civil.
“O nosso agir parte do particular, da resposta à necessidade concreta de pessoas que se encontram em uma situação de vulnerabilidade, reconhecendo que a vulnerabilidade não é uma posição ontológica, mas momentânea da pessoa”, pontuou Fabrizio.
Para o prefeito de São Paulo, em seu discurso, o acolhimento e a autonomia das pessoas em situação de rua são o ponto central do projeto. “É preciso acolhimento, por isso ampliamos a nossa rede de assistência. Essa equipe toda está comprometida, entregando essa vila para as pessoas, cuidando delas para que possam ter a sua autonomia, e a gente ter uma cidade mais acolhedora e que merece esse título de ser essa cidade da diversidade, do acolhimento e que cuida de todos” afirmou. Na sequência, o secretário destacou o diferencial da oferta de um projeto como as Vilas Reencontro. Segundo ele, “nunca se fez tanto, em tão pouco tempo, pela dignidade da população de rua”.
A Vila Reencontro Anhangabaú
Para a construção da Vila Reencontro Anhangabaú, a Prefeitura de São Paulo cedeu um terreno de 1.900m² à SMADS. Localizado em uma região histórica da capital paulista, na Ladeira da Memória, no Anhangabaú, a área foi reformada e recebeu 49 unidades modulares, feitas com material resistente, que garante isolamento térmico e acústico, para receber a população atendida. Entre os módulos, 40 foram destinados para as moradias, que foram equipadas com banheiro; fogão com duas bocas; pias; camas de casal, beliche ou berço; e guarda-roupa. As outras nove foram reservadas para funções administrativas e áreas comuns, como brinquedoteca; lavanderia; e cozinha.
Atualmente, a vila abriga 98 pessoas, escolhidas com base em um perfil estabelecido pelas Portarias 92 e 95/2022 da SMADS que define as modalidades e os critérios de priorização para encaminhamento de famílias em situação de rua para as Vilas Reencontro. Entre os critérios estão: núcleos familiares de três a quatro pessoas, que podem ser compostos por casais com filhos; famílias monoparentais; outras composições familiares, com ou sem crianças; e mulheres com histórico de violência doméstica. Famílias com crianças na primeira infância, ou seja, com idade até seis anos, também estão dentro dos critérios e possuem prioridade. Além disso, também é considerada a compatibilidade das pessoas selecionadas com o modelo de moradia autônoma. O período de estadia nas Vilas varia entre 12 e 24 meses, com a possibilidade de extensão, de acordo com o acompanhamento da família pela equipe técnica.
Para Erika Alves, moradora do módulo 19, a mudança para a Vila Reencontro Anhangabaú foi como um novo capítulo na sua vida e de seu marido. “Quando a gente soube da oportunidade de vir pra cá, eu na hora quis, porque a gente viu isso como uma oportunidade de ter mais autonomia, de ter o meu espaço”, disse. Erika está grávida de um menino, o Isaac, e vê de forma positiva o futuro do seu filho na Vila. “Criar ele aqui vai trazer melhores possibilidades também, para ele crescer em um ambiente com várias famílias, com crianças para ele brincar”, finalizou.
A moradora do módulo 36, Denize Agnes, também vê na Vila a possibilidade de criar sua filha, Marih (9), em um ambiente mais seguro. “Antes, as crianças ficavam vivenciando todas as violências que tinham nos entornos. Então aqui ficou um lugar melhor para nós, para as crianças brincarem. É uma vila bem família, acho que vai ser bem legal”, explicou. Para ela, com o seu direito à moradia e à alimentação assegurados, o foco agora é na educação e no futuro da sua filha. Na Vila, são servidos café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar diariamente.
Autonomia e recomeço
Além da nova moradia, o Programa também prevê uma série de eixos de atuação que serão desenvolvidos pela AVSI. Responsável pela administração da Vila Reencontro ‘Anhangabaú’ e da Vila Reencontro ‘Cruzeiro do Sul I’, a organização planeja desenvolver ações como a gestão participativa, ou cogestão da Vila, em que moradores são chamados a se envolver na tomada de decisões; assistência nutricional; acompanhamento individualizado de saúde e educação às famílias; busca ativa de oportunidades de inserção laboral; parcerias com setor privado para gerar oportunidades de trabalho; atividades comunitárias voltadas à promoção das capacidades e competências pessoais e coletivas como palestras, oficinas, atividades esportivas, recreação infantil, dança, ioga, música, entre outras.
Eliceli Bonan, coordenadora operacional das Vilas Reencontro de São Paulo da AVSI Brasil, destaca parte do trabalho realizado no dia a dia das Vilas. “Temos pessoas na equipe dedicadas exclusivamente a busca ativa de vagas de emprego, tanto em empresas como em outras opções de trabalho formal com a sociedade civil. E, além deste contato externo, nossa equipe também faz o trabalho interno de preparar as pessoas para o mercado de trabalho”, afirma, destacando as diversas parcerias já encaminhadas para capacitações nas áreas de empreendedorismo, beleza e educação financeira.
Para ela, não há uma solução mágica para a questão, que já é enfrentada há anos na capital paulista e em diversas outras cidades e capitais mundo afora. No entanto, ela acredita que a metodologia já aplicada pela instituição em outras populações em situação de vulnerabilidade possa trazer resultados positivos e auxiliar na trajetória de cada família beneficiária do programa rumo à uma saída qualificada da situação de rua. “São diversos focos, na expectativa de que esse conjunto de coisas que estamos trazendo aqui resultem em uma saída dos serviços de acolhimento e a manutenção dessa condição alcançada”, ela aponta, destacando os diversos eixos de atuação do programa.
Vila Cruzeiro do Sul I
Parte do Programa Reencontro, a Vila do Anhangabaú foi a segunda na cidade. A primeira, a Vila Reencontro Cruzeiro do Sul I, foi inaugurada em 24 de dezembro, véspera de Natal. Localizada na Avenida Cruzeiro do Sul, no Clube de funcionários da extinta Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC), a vila inaugural possui 40 módulos de 18m², moradia de 102 pessoas, entre elas: 43 crianças com menos de 12 anos, 33 mulheres acima de 18 anos e 23 homens acima de 18 anos. Os espaços, possuem as mesmas composições, da Vila do Anhangabaú. Responsável pelas duas Vilas, a AVSI Brasil é uma organização brasileira sem fins lucrativos, vinculada à Fundação AVSI, presente em mais de 30 países.
