Em Boa Vista, Roraima, no abrigo indígena Waraotuma a Tuaranoko, o esporte tem se tornado uma ferramenta de transformação para os jovens. O projeto KLABU, inaugurado oficialmente em março, criou um espaço multifuncional, conhecido como “Clubhouse”, que funciona como uma biblioteca desportiva e oferece equipamentos necessários para a prática de esportes.
Este projeto é fruto de uma parceria entre a AVSI Brasil, a Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR) e a fundação holandesa KLABU, para fortalecer o senso de comunidade e resiliência entre os jovens migrantes e refugiados.
Elizabeth Josefina Centeno, uma jovem da etnia Warao, compartilha como o projeto transformou o ambiente do abrigo:
“Percebi que muita coisa mudou, o ambiente mudou. A partir da inauguração, foi tudo muito incrível, muito emocionante de verdade. Quem já gostava de esporte passou a amar ainda mais.”
Ela conta que os jovens esperam ansiosos pelas atividades e que o espaço se tornou parte essencial de suas rotinas.
Hoje, Elizabeth é uma voluntária dedicada, responsável pela organização do material esportivo e pelo suporte nas atividades. Para ela, o projeto vai além de uma oportunidade esportiva, é também uma valiosa chance de crescimento pessoal.
“Melhorei em muitas coisas desde que comecei a apoiar no projeto. Questões como comunicação e timidez melhoraram muito. Hoje em dia, falo muito mais com as outras pessoas e me comunico muito melhor”, pontuou.
O abrigo Waraotuma a Tuaranoko faz parte da Operação Acolhida e abriga até 1.500 pessoas de diferentes etnias, como Warao, Enepã, Kariña e Pemón. Adaptado aos costumes indígenas da Venezuela, o espaço busca promover a integração cultural e o fortalecimento de identidade para a juventude migrante.
Segundo Thiago Ribeiro Costa, Oficial de Projeto responsável pela implementação da KLABU no abrigo, desde o início das atividades, o foco tem sido ampliar os espaços coletivos, promovendo a convivência pacífica e implementando ações afirmativas que apoiem os praticantes de esportes.
“O abrigo Waraotuma a Tuaranoko já possuía uma grande quantidade de pessoas que acreditam na mudança que o esporte pode trazer para a inclusão social das pessoas, e que através dele podem conhecer outras culturas e lugares representando sua comunidade”, destacou Thiago.
Ele explica que, quando o projeto KLABU chegou ao abrigo, o objetivo não era aumentar as diferenças ou as competições entre as etnias presentes no local. Por isso, as estratégias adotadas são sempre discutidas com a coordenação do abrigo, a equipe de proteção e a proteção de base comunitária, garantindo que não haja conflitos de interesse, favorecimento individual e que seja possível manter a rotatividade e o benefício coletivo, conforme o propósito inicial do projeto.
Desde a inauguração, os dados coletados evidenciam o impacto positivo do espaço. Ao longo do ano, cerca de 8.539 pessoas foram apoiadas através das atividades do projeto dentro e fora do abrigo, sendo 1.025 meninas e 7.514 meninos. Em média, 100 pessoas utilizam o local diariamente, aproveitando uma programação semanal diversificada, que inclui partidas de futebol, vôlei, xadrez e ping-pong.
O futebol é a atividade preferida dos meninos, enquanto o vôlei atrai uma participação equilibrada entre gêneros, com 55% de meninas e 45% de meninos.
Para muitos jovens, o projeto KLABU representa uma oportunidade de conexão, amizade e fortalecimento da autoestima. O gestor de projeto da fundação KLABU, Tjark Klimant, reforça a importância de projetos como esse para comunidades em situação de vulnerabilidade.
“O esporte tem o poder de promover um senso de pertencimento, alegria e resiliência. Na KLABU, trabalhamos ao lado de refugiados para criar espaços onde esses sentimentos possam florescer, ajudando indivíduos e comunidades não apenas a reconstruírem suas vidas, mas também a desbloquearem seu potencial. Através de nossos clubes e programas, testemunhamos de perto como o esporte alimenta a confiança, fortalece laços e constrói pontes — transformando desafios em oportunidades de crescimento e conexão.”
Com menos de um ano desde o início de suas atividades, a KLABU tem ampliado suas parcerias. Em colaboração com as lojas Bemol, o projeto viabilizou a inscrição e participação de cerca de 10 pessoas do abrigo Waraotuma a Tuaranoko na corrida Bemol Run, para promover a inclusão em eventos esportivos e culturais em Roraima.
Além disso, uma parceria com o Instituto Pirilampos proporcionou a realização de dois campeonatos de futebol entre crianças e adolescentes que vivem nos abrigos de Boa Vista, o projeto também segue apoiando o desenvolvimento de atividades esportivas e competições no abrigo, fortalecendo o senso de comunidade e estimulando o engajamento dos jovens em práticas que promovem a saúde e o bem-estar.
Ações como esta, do Projeto Gestão de Abrigos, são possíveis, mediante as parcerias com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), Força-Tarefa Logística-Humanitária e Ministério de Desenvolvimento, Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS).
