A rádio comunitária La Voz de Los Refugiados promoveu, de 13 a 17 de fevereiro, a peça de radioteatro “¡No a la discriminación! ¡No al bullying! ¡No a la xenofobia!”, produzida por um grupo de adolescentes migrantes e refugiados do abrigo indígena Waraotuma a Tuaranoko, localizado em Roraima.
Com este trabalho, o grupo de adolescentes quis levar o público a refletir sobre os diferentes sinais de bullying, discriminação e xenofobia, além de mostrar como os migrantes e refugiados encontram dificuldades em se adaptar à vida em um país estrangeiro, ainda mais, em países com línguas e culturas totalmente diferentes.
Recorrendo à educomunicação, a rádio La Voz de los Refugiados visa contribuir para o desenvolvimento desses jovens, fornecendo-lhes ferramentas que vão além do convencional, validando seus conhecimentos e experiências através da expressão artística e da criatividade em espaços informais de aprendizagem.
A atividade contou com a participação de Cassy Grant, Oficial de Proteção de Base Comunitária da AVSI Brasil, que explicou a importância de realizar esse tipo de atividade junto à comunidade “O público adolescente é um dos mais desafiadores, principalmente quando se trata de um público migrante e indígena, como é o caso da comunidade refugiada no abrigo Waraotuma a Tuaranoko. Eles têm enfrentado várias dificuldades, por exemplo, a barreira do idioma, o português não seria sua segunda língua, mas sim a terceira, contando o espanhol e sua língua nativa indígena, e isso dificulta a inserção na rede de ensino. Esse tipo de curso é uma das formas que encontramos para que eles tenham acesso a pelo menos uma educação informal”.
Um dos participantes, Jeyson González, contou um pouco da sua experiência na produção da peça de radioteatro. “Foi a primeira vez que tive a oportunidade de gravar um programa e conhecer um pouco desse mundo. Apesar de todos termos ideias diferentes sobre o que queríamos gravar, conseguimos chegar a um acordo e fazer um bom trabalho em equipe”.
A Peça
A escola é o ambiente de fundo relatado na série, um lugar que assegura o direito à educação e formação do indivíduo frente a sociedade. Mas quando existem meios de opressão de minorias, acaba se tornando um ambiente insalubre para o estudante frequentar.
Na peça, Helena cria aversão a escola devido ao comportamento dos colegas. Isso é um indicativo de como a escola e os responsáveis são essenciais no asseguramento de um ambiente saudável para um melhor desenvolvimento tanto educacional quanto social e de garantir a permanência dos estudantes migrantes.
Ter um bom ambiente escolar acaba sendo crucial para a permanência e, também, para a promoção e desenvolvimento de crianças e adolescentes na educação. “Quando uma criança ou adolescente não se sente acolhido, ou aceito, a escola torna-se um ambiente que expressa medo. O combate a esse tipo de violência, infelizmente, tão prevalente no ambiente escolar, é algo que deve ser encarado como um esforço permanente, buscando sempre favorecer a recepção dos migrantes e refugiados no ambiente escolar”, contou Caio Zanis, psicólogo do Instituto Pirilampos.
O bullying, discriminação e xenofobia, quando parte da vida acadêmica do migrante e refugiado, pode afetar diretamente o desenvolvimento do aluno no meio escolar, acarretando vários problemas como a evasão escolar.
La Voz de Los Refugiados
A rádio comunitária La Voz de los Refugiados é um projeto de inclusão digital da Unidade de Inovação da Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR), financiado pelo Ministério de Cooperação de Luxemburgo e implementado pela AVSI Brasil, com a finalidade de combater a desinformação nos abrigos da Operação Acolhida, e de criar um senso de comunidade nos beneficiários refugiados.
A inauguração do projeto aconteceu em março de 2021 e, desde então, os refugiados voluntários se reúnem semanalmente para preparar programas em formato de podcast. O conteúdo de “La Voz de los Refugiados” é transmitido no horário das refeições em sistema de som analógico nos centros de acolhida geridos pela AVSI Brasil em Boa Vista.
