Refugiados e migrantes venezuelanos desembarcaram em Santa Catarina neste mês, onde terão a chance de mudar de vida, a partir de oportunidades de trabalho na cidade de Caçador. O grupo conta com 77 pessoas, totalizando 15 famílias, destas 36 foram selecionadas para trabalhar nas fábricas de embalagens e de madeira da Adami S/A. Todos estavam na região Norte do Brasil, depois que migraram devido à crise econômica e social no país de origem.
A oportunidade de emprego surgiu por iniciativa da empresa caçadorense, que atua no setor de embalagem e madeira com cinco unidades no estado e abriu o processo seletivo em Boa Vista (RR). O processo teve o apoio da Associação Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI Brasil), ONG que faz a gestão de cinco centros de acolhida em Roraima e implementa o projeto Acolhidos por Meio do Trabalho. A ação prevê moradia temporária durante os três meses iniciais para todo o grupo interiorizado, além do suporte com alimentação e acompanhamento social neste período.
O deslocamento de Roraima para Santa Catarina foi realizado pela Força-Tarefa Logística Humanitária da Operação Acolhida e pela Organização Internacional para as Migrações (OIM). Ao chegarem na cidade, eles foram acomodados em moradias temporárias, com a supervisão da AVSI Brasil, onde terão o acompanhamento de duas psicólogas para apoiá-los na integração local e na empresa durante os meses iniciais.
Antes de iniciarem no novo emprego, os contratados passaram pela integração através do Programa Bem Vindos e Treinamento Técnico Operacional – TTO, na Adami, para adaptação e treinamento. Desde o início do processo de contratação do grupo, a equipe de Recursos Humanos se mobilizou para dar todo o suporte à AVSI Brasil. Todos estão com as documentações e vacinas em dia.
De acordo com Hideo Ogassawara, diretor da Adami S/A, a falta de mão-de-obra na região e o dinamismo da economia mundial motivou a abertura desta oportunidade para refugiados. “É de conhecimento de todos que qualquer processo de mudança exige esforço, e muitas vezes o que em um primeiro momento pode ser desconfortável é capaz de proporcionar muito crescimento. No entanto, a inovação não se resume apenas ao desenvolvimento de novos produtos ou modelos de negócios, ela impacta a vida de muitas pessoas. A exemplo da chegada deste grupo, que agora tem a oportunidade de uma nova história junto a nossa empresa, aos seus familiares e à comunidade em geral”, enfatiza.
A gerente de Recursos Humanos, Keila Angélico, intermediou a contratação do grupo de refugiados e migrantes venezuelanos junto aos supervisores de produção, Flamarion Franco Peretti e João Batista Mazutti de Geroni. “Muito mais do que oferecer uma oportunidade de trabalho para estas famílias, abrindo vagas de trabalho, acreditamos que demos mais um passo em direção ao respeito e à inclusão. Já há algum tempo abraçamos a diversidade em nossa empresa, a exemplo da contratação de colaboradores de outros países, mantendo em nosso quadro mexicanos, haitianos e africanos em nosso quadro. E agora chegam os venezuelanos com a chance de recomeçar a vida e através da dedicação ao trabalho tendo a chance de crescer com a gente”, destaca.
Para a gerente da AVSI Brasil, Thais Braga, as ações do projeto Acolhidos proporcionam tranquilidade para as famílias e também para as empresas contratantes. “A empresa sabe que os venezuelanos recém-chegados à cidade terão todo o apoio para se adaptarem mais facilmente à nova rotina e, por outro lado, os venezuelanos sabem que continuam contando com o apoio emocional e de aspectos práticos do dia a dia, dado pela AVSI Brasil, em um momento crítico de recomeço”.
Contratações avançam em Santa Catarina
Com forte perfil industrial, o estado de Santa Catarina está localizado ao Sul do país e abriga diversas empresas com alta rotatividade de mão-de-obra-obra, sendo o estado que mais contratou refugiados e migrantes venezuelanos, dentro do projeto Acolhidos por meio do trabalho. Em 36 meses de atuação, o projeto intermediou a contratação de 962 refugiados e migrantes venezuelanos que estavam em Roraima e foram interiorizados para outros estados brasileiros. Deste número, 587 pessoas foram contratadas por empresas catarinenses. Os setores que mais contrataram venezuelanos no estado são o de processamento de carne, com 286 contratações; seguido do setor moveleiro (83 contratações), construção civil (52 contratações) e o setor madeireiro (36 contratações). As interiorizações foram realizadas com o apoio de 21 empresas, localizadas em 18 cidades catarinenses: Seara, Ipumirim, Concórdia, Blumenau, Itapiranga, Videira, São Miguel do Oeste, Joinville, Balneário Camboriú, Itajaí, Chapecó, Xanxerê, Turvo, Bandeirantes, Meleiro, Santa Helena, Jacinto Machado e Caçador.
Além de Santa Catarina, o projeto Acolhidos por meio do trabalho também efetua parcerias com empresas de outras regiões do Brasil. Em três anos, o projeto já realizou 80 processos de interiorização para oito estados, além do Distrito Federal, e oportunizou uma nova vida para 2.132 pessoas, já que cada pessoa contratada é acompanhada por familiares para a nova localidade. As contratações realizadas nos três primeiros anos estão concentradas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste, por empresas localizadas em Mato Grosso, Rio Grande do Sul, São Paulo, Goiás, Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina e o Distrito Federal.
O projeto
Idealizado pela AVSI Brasil para fortalecer as ações da força-tarefa humanitária da Operação Acolhida, o projeto Acolhidos por meio do trabalho também atua com brasileiros em situação de vulnerabilidade. No Nordeste, desenvolve iniciativas específicas na região de Novos Alagados, em Salvador, onde implementa cursos de capacitação profissional, com certificados para pessoas a partir de 15 anos e também prospecta vagas de emprego para quem conclui os cursos.
O projeto tem o envolvimento do Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), da Fundação AVSI e AVSI-USA e é financiado pelo Escritório de População, Refugiados e Migração (PRM) do Departamento de Estados dos EUA, além do apoio institucional da Casa Civil da Presidência da República, da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), Organização Internacional para as Migrações (OIM), Rede Brasil do Pacto Global e de entidades da sociedade civil que atuam na temática do refúgio e da migração.