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DISTRITO FEDERAL: VENEZUELANO EXPÕE SUA ARTE NA CASA BOM SAMARITANO

Em 2020 Alfonzo foi interiorizado de Roraima acompanhando um filho e um sobrinho selecionados para trabalhar em um restaurante, a partir do projeto Acolhidos por meio do trabalho. Depois de um ano ele passou a trabalhar na área administrativa da mesma empresa e atualmente divide o tempo também para se dedicar à pintura

A pintura sempre foi uma paixão de Alfonzo, porém a atividade ficou adormecida durante um período nebuloso em sua vida. Ele é um dos venezuelanos que migrou para o Brasil para fugir da crise em seu país, em 2018. Economista na Venezuela, Alfonzo estava passando por dificuldades quando decidiu se juntar ao filho mais novo e um sobrinho para tentar novas oportunidades no Brasil.

A partir do projeto Acolhidos por meio do trabalho, a família participou de um processo seletivo em Boa Vista (RR) onde filho e sobrinho foram aprovados para trabalhar em um dos restaurantes do Grupo Levvo de Brasília (DF). Como o projeto prevê o acompanhamento de familiares nas interiorizações pelo trabalho, Alfonzo decidiu acompanha-los para iniciar uma nova vida na capital federal (relembre aqui como foi a chegada do grupo).

A empreitada foi positiva. Em poucos meses, a situação da família progrediu. O filho, que era formado em engenharia em seu país de origem, conseguiu uma recolocação dentro da sua área de atuação em Brasília. Para substituí-lo na vaga de atendente no restaurante, a empresa optou por contratar o pai – Alfonzo. Desta forma, seria uma ajuda à mais na renda familiar. Não demorou para ele ser transferido para a área administrativa e hoje Alfonzo atua como assistente contábil na empresa, já que tem experiência consolidada em economia.

A partir desse novo cenário, Alfonzo tem se dedicado cada vez mais à sua antiga paixão – a pintura. Motivado pela solidariedade que vem recebendo no Brasil, ele tem criado diversos quadros em homenagem a pessoas que fizeram parte deste percurso de integração no novo país. Um deles é Luis Guilherme, que tem uma história especial na vida de Alfonzo. Quando a família migrou para o Brasil e estava em um dos abrigos da Operação Acolhida, em Roraima, Luis Guilherme atuava como voluntário e participou do processo de capacitação do grupo de venezuelanos que seria interiorizado para Brasília, em 2020. Alguns meses depois, Luis Guilherme voltou para Brasília, sua cidade natal, e começou a trabalhar no novo centro de acolhida Casa Bom Samaritano, gerido pela AVSI Brasil e IMDH, onde atua como Oficial de Disciplina e participação coletiva. Ele retomou contato com a família de Alfonzo e incentivou a exposição do amigo – agora no centro de acolhida. “É uma forma simbólica para acolher os grupos de venezuelanos que passam aqui neste espaço e transmitir uma mensagem positiva, de acolhimento, superação e conquistas. Quando recebemos um novo grupo, contamos as histórias de várias pessoas que chegaram aqui em Brasília e hoje já estão vivendo suas vidas com autonomia e progresso. A família de Alfonzo é uma delas”, conta Luiz Guilherme.

RETRATOS E PIPAS

A exposição conta com retratos desenhados em tela branca, utilizando carboncillo (lápis carvão). Nesta categoria, Alfonzo utiliza a técnica da observação, cujo objetivo é reproduzir um modelo de forma idêntica a partir da sua observação direta. Outra modalidade são as telas paisagísticas, em que o autor utiliza tinta acrílica em tela e desenho livre, geralmente com recordações de seu país de origem, como as Cataratas Ángel, ou Salto Angel – o mais alto do mundo, com 979 metros de altura, localizada no Estado de Bolívar, sudeste da Venezuela, próximo da fronteira Brasil-Guiana.

Alfonzo também é exímio criador de pipas (papagayos ou voladores, em seu idioma), e disponibilizou alguns exemplares do seu acervo pessoal para a expor na Casa Bom Samaritano. “É uma habilidade que adquiri ainda quando criança, e fui repassando para as novas gerações”, ele explica. A atividade ultrapassa fronteiras e também é apreciada pelos países da América Latina, como na Venezuela. A confecção do brinquedo proporciona diferentes estímulos importantes para crianças e adolescentes, como o exercício da paciência, composição de cores, cálculo matemático, além de promover a sociabilização, destreza e coordenação motora.

Pensando nessas habilidades, a coordenação da Casa Bom Samaritano convidou Alfonzo para realizar uma oficina de pipas para as crianças e jovens abrigados no espaço. A atividade está sendo planejada para as ações comemorativas ao Dia das Crianças, a ser realizada no mês de outubro.

CASA BOM SAMARITANO

A Casa Bom Samaritano serve como moradia temporária para pessoas refugiadas e migrantes da Venezuela, que estão abrigadas em Roraima e que são interiorizadas com a perspectiva de trabalharem na região do Distrito Federal. O imóvel, que passou por uma reforma, foi cedido temporariamente pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) ao projeto Acolhidos por meio do trabalho, e é gerenciado conjuntamente pela AVSI Brasil e Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH). O espaço conta com 18 quartos, cozinha equipada, refeitório e louçaria, lavanderia, brinquedoteca, salas de aula para cursos, auditório e plataforma elevatória para pessoas com deficiência.

Financiado com recursos do Escritório de População, Refugiados e Migração (PRM) do Departamento de Estado dos EUA, o projeto Acolhidos por meio do trabalho tem o apoio institucional da Casa Civil da Presidência da República, da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), Organização Internacional para as Migrações (OIM), Rede Brasil do Pacto Global e de entidades da sociedade civil que atuam na temática do refúgio e da migração. O projeto também prevê ações com a população brasileira em situação de vulnerabilidade.