O projeto Acolhidos Por Meio Do Trabalho promove os direitos humanos a partir da acessibilidade e oportunidades de empregos para refugiados e migrantes venezuelanos no Brasil, visando a integração socioeconômica e autonomia de famílias venezuelanas. Implementado pela AVSI Brasil, o projeto atende a pessoas em situação de vulnerabilidade social, entre elas Pessoas com Deficiência (PcD), que representam um ponto importante de atenção para ser ofertada a inclusão e acessibilidade, conforme as necessidades de cada indivíduo.
Em Brasília–DF, o centro de acolhida Casa Bom Samaritano (CBS) é um espaço adaptado para receber imigrantes que possuam alguma deficiência, além do acompanhamento de profissionais especializados para garantir o acesso a serviços de educação, emprego e saúde. Lá conhecemos a história da venezuelana Franciny Gerdes e seu companheiro, Miguel Romero. Junto da filha menor de idade, o casal desejou vir ao Brasil e, enquanto pessoas com deficiência auditiva, tiveram medo das dificuldades de adaptação no novo país.
O acolhimento da família na Casa Bom Samaritano foi um processo que contou com o apoio da rede de proteção social de Brasília para a presença de uma pessoa intérprete de libras (Língua Brasileira de Sinais) na recepção e para a participação comunitária.
“Aqui senti isso, sabe? Que temos esse meio de falar pela intérprete e que as pessoas têm esse interesse de conversar com a gente, às vezes pelo telefone [via mensagens escritas]. Muitas vezes, quando a gente perguntava para alguém, eles respondiam ‘espera um pouquinho, vou chamar um intérprete’. Então, os lugares que a gente foi, a gente recebeu ajuda. Achei isso muito legal”, conta Miguel.
A mobilização aconteceu por meio do projeto Acolhidos em conjunto com a assistência social, rede pública de saúde e outras organizações da sociedade civil, visando integrar e gerar a oferta de serviços específicos para a necessidade do grupo familiar. Com o apoio do Instituto Nossa Senhora do Brasil (Inoseb), espaço voltado para atendimento de pessoas com deficiência auditiva, o projeto Acolhidos pode garantir a acessibilidade a todos os serviços desenvolvidos no próprio centro de acolhida. A partir desse acolhimento, o casal teve a oportunidade de participar de cursos nas áreas em que sonham trabalhar no país.
Para a coordenadora pedagógica do Inoseb, Irmã Liliane, a participação do casal nas atividades é parte de um processo integrador. Considerando as diferenças da língua de sinais venezuelana para a brasileira, o casal passou a realizar um curso no instituto para aprofundar o conhecimento e, assim, aprender a linguagem.
“Temos esperanças de que os cursos que eles realizam aqui seja um primeiro passo, interagindo na comunidade surda [imigrante e brasileira], criando vínculos com outros surdos de nossa comunidade, assim como também participando de outras atividades na comunidade”, destaca a Irmã Liliane.
Ambos estudaram libras e informática e, antes de sair da Casa Bom Samaritano, Franciny foi inscrita no Qualifica-DF, participando do curso de qualificação em manicure, um dos seus maiores sonhos. Hoje aguarda entrevista em um salão de beleza, e Miguel alcançou um emprego na Associação de Centro de Treinamento de Educação Física Especial (Cetefe).
A partir do apoio da Cetefe, também foi possível promover o acesso ao mercado de trabalho ao casal. A Cetefe possui atenção especializada de serviço de proteção social para pessoas com deficiência e suas famílias, oportunizando a qualificação profissional, integração social e laboral dos grupos de atenção. Taumaturgo de Jesus, analista administrativo da Cetef, comenta sobre o apoio que o espaço realiza, voltadas para o esporte, integração social e laboral.
“Queremos abrir espaços para essas pessoas, porque elas têm direito a esse espaço. Minha perspectiva é de que um dia a gente consiga chegar até todas as pessoas que têm essa necessidade de trabalhar, a vontade de estar inserido dentro da comunidade, incluso no trabalho. É esse o nosso grande objetivo”, afirma.
Outra pessoa acolhida na Casa Bom Samaritano foi a venezuelana Elizabeth Tanare, que chegou ao Brasil em 2023, buscando um melhor tratamento para a saúde ocular, já que possui baixa visão. Com amigos e familiares vivendo em São Paulo, buscou o Brasil por conta desta rede de apoio. Entretanto, em Roraima, mudou os rumos para capital federal ao conhecer o projeto Acolhidos Por Meio do Trabalho.
Ainda na Venezuela, ela e seu marido perderam seus empregos e com o agravamento do quadro de saúde, viram a necessidade de vir ao Brasil com maior urgência, onde conseguiram se refugiar e retomar suas vidas.
“Eu já tinha mais de um ano buscando uma cirurgia para os olhos, mas não consegui realizar na Venezuela. É muito difícil. Passei muito tempo indo atrás de médicos, buscando tratamento, mas foi em vão. Então, de repente, nós começamos a pensar, porque não queríamos sair do nosso país, mas, devido às circunstâncias em que estávamos, decidimos sair”, comenta Elizabeth.
Assim, o casal chegou ao Brasil e, ao encontrar o projeto Acolhidos, deu início ao processo de interiorização e chegou até a Casa Bom Samaritano. Com o apoio da equipe, Elizabeth conseguiu realizar sua cirurgia ocular e, atualmente, trabalha como massoterapeuta, focando em cuidar de sua saúde e de sua família.
“Já tenho seis meses trabalhando e até agora sinto que vou bem, tem sido uma atividade fácil, porque é uma área que gosto, que já conheço e trabalho a cada dia com pessoas diferentes, me adaptando a cada dia mais. Queremos seguir adiante, crescer… e nos esforçamos a cada dia”, destaca Elizabeth.
Essas são algumas das várias histórias de acolhimento, integração e proteção de migrantes e refugiados venezuelanos no mercado de trabalho. O projeto Acolhidos busca apoiar a acessibilidade e, por meio disso, a autonomia gerada pela integração laboral.
O projeto Acolhidos busca a promoção da integração socioeconômica de refugiados e migrantes venezuelanos no Brasil, sendo uma iniciativa da aliança entre a Fundação AVSI e a AVSI USA, implementado pela AVSI Brasil em parceria com o Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), com recursos do Departamento de População, Refugiados e Migração (PRM) do governo dos Estados Unidos.