“Vi, durante dias, e junto ao nascer do sol, pessoas partindo para reconstruir suas vidas em outros estados”, conta o oficial de participação comunitária, Tanner Menezes, sobre sua atuação no centro de acolhida, Rondon 2, em Roraima. Ele faz parte da equipe humanitária da AVSI Brasil que recebe migrantes e refugiados venezuelanos todos os dias em busca de uma vida melhor no Brasil.
Há 12 anos é celebrado, no dia 19 de agosto, o Dia Mundial Humanitário em homenagem aos colaboradores que, como Tanner, se doam através de trabalhos humanitários, distribuindo ajuda em comunidades vulneráveis.
A data foi instituída pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2008, como forma de recordar as vítimas do ataque no escritório das Nações Unidas no Iraque, em 2003, onde cerca de 150 pessoas ficaram feridas e 22 morreram. Essa foi a primeira vez que uma organização humanitária e neutra foi atacada de forma violenta.
De lá para cá, o trabalho humanitário tem crescido e se mantém nos mais diversos países, entretanto os números mostram o risco que esses colaboradores enfrentam. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, em 2019, 483 trabalhadores humanitários foram atacados, 125 mortos, 234 feridos e 124 sequestrados, em um total de 277 incidentes separados.
Elo do Desenvolvimento
Desde de 2018 a crise política, econômica e social instaurada na Venezuela motivou a comunidade internacional ao reconhecimento de uma das maiores crises humanitárias do planeta. Milhares de venezuelanos saíram do país para outras regiões próximas, como é o caso do Brasil, que faz a fronteira na cidade de Pacaraima, em Roraima. Essa ação massiva gerou graves pressões sociais e econômicas no estado de Roraima, especialmente nas cidades de Boa Vista e Pacaraima.
Segundo a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) o Brasil é o quinto maior anfitrião de venezuelanos deslocados no mundo. Até dezembro de 2019, mais de 260 mil refugiados, solicitantes de asilo e migrantes temporários estavam no país. A AVSI Brasil atua diretamente com o impacto da crise humanitária da Venezuela.
Mariana Cataldo é gestora de casos de proteção em Roraima e conta sobre a realidade da atuação com a emergência humanitária. “É gratificante e desafiador acompanhar momentos de extrema vulnerabilidade, ver pessoas que tiveram que deixar tudo para trás em busca de sobrevivência. No entanto, somos recompensados com ensinamentos diários sobre esperança, resiliência, amor, alegria. É intensidade, troca, acolhimento, empatia, ser humano, ser hermano”.
Cerca de 200 colaboradores AVSI Brasil contribuem com o trabalho que acontece em parceria a Operação Acolhida, iniciativa do Governo Federal, com o apoio ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), gerindo oito dos trezes abrigos existentes em Roraima, que acomodam atualmente cerca de quatro mil venezuelanos. Além de auxiliar com a interiorização voluntária para diferentes cidades brasileiras.
Confira alguns depoimentos de colaboradores AVSI Brasil que fazem parte da equipe de linha de frente da emergência humanitária da Venezuela:
“Me considero uma pessoa privilegiada por ter a oportunidade de trabalhar com seres humanos tão corajosos, trabalhar nesses contextos tão complexos e desafiadores, é muito transformador, as vezes somos queridos outras vezes nem tanto, cada sorriso, cada brilho no olhar, cada história de coragem, cada conquista, cada desenho feito por uma criança, cada passo que as pessoas dão para mais perto dos seus objetivos, me motiva e preenche o meu coração de esperança” –Viviana Peña, coordenadora Abrigo São Vicente I.
“Trabalhar na ajuda humanitária como psicóloga tem sido gratificante e desafiador. Tenho aprendido e me ressignificado diariamente. Ser parte desse processo de acolhimento me enriquece profissional e pessoalmente. Os desafios são inúmeros e diários, mas são das histórias e trajetórias vitoriosas que retiro a inspiração para seguir trabalhando pela garantia do acesso a direitos de todos que escolheram o Brasil como refúgio e acolhimento”- Priscila Delarmelina, psicóloga.
“É empolgante se sentir parte de um movimento que toca a vida de milhares de pessoas e que pode mudar a trajetória de famílias inteiras, devolvendo a dignidade e dando esperança de uma vida melhor” – Graziela Cézar, coordenadora de abrigo.
Apoio para refugiados e migrantes a partir de uma oportunidade de trabalho
Por meio do projeto Acolhidos por meio do trabalho, a AVSI Brasil busca melhorar o acesso ao trabalho formal para refugiados e migrantes venezuelanos e de facilitar a realocação voluntária abrigados em Boa Vista para outras localidades do Brasil. Além de auxiliar no acesso do trabalho formal para grupos vulneráveis da população brasileira. O projeto já realizou a interiorização de grupos para Santa Catarina e para o Distrito Federal.
Christian Menin é assistente de Relações Institucionais do projeto e atua em Boa Vista na identificação e no acompanhamento deste público. Para ele, estar envolvido num trabalho humanitário é uma decisão que se faz pensando no próximo. “Atender a uma emergência do outro, com compaixão e solidariedade é trabalhar por justiça”, avalia. Segundo ele, a data é importante para uma reflexão sobre os desafios da humanidade. “Essa dedicação envolve abrir mão de muitas questões, como estar distante de família, dos amigos, de conforto, por algo maior. Estar aqui atuando num trabalho humanitário é ser um apoio para quem mais precisa. O contato com os venezuelanos, por exemplo, me traz um sentimento de uma humanidade maior. Me sinto mais humano e menos individualista”, relata.