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AULAS DE LíNGUA PORTUGUESA FACILITAM A COMUNICAçãO DE VENEZUELANOS QUE BUSCAM OPORTUNIDADES NO BRASIL

Os cursos virtuais são realizados para venezuelanos de sete abrigos da Operação Acolhida em Boa Vista, para facilitar a inserção de venezuelanos no mercado de trabalho

Aprender um novo idioma é um desafio para muitos migrantes que chegaram no Brasil em busca de uma oportunidade melhor. Mesmo com muitas semelhanças entre a língua portuguesa e castelhana, há diferentes pronúncias e significados que atrapalham a comunicação e podem dificultar uma conversa, ou entrevista de emprego, por exemplo.

Em Boa Vista (RR), migrantes e refugiados venezuelanos abrigados nos centros de acolhimento da Operação Acolhida, estão praticando o idioma falado no Brasil gratuitamente e não precisam sair do abrigo para isso. A iniciativa faz parte do projeto Acolhidos por meio do trabalho, que apoia integração de venezuelanos no Brasil com interiorizações voluntárias a partir de uma oportunidade de trabalho junto a empresas privadas.

Yaritza Natera é uma das alunas matriculadas. Com 24 anos, ela vive no abrigo Latife Salomão, com dois filhos pequenos e já sente avanços após um mês de estudos. Na Venezuela, ela trabalhava como diarista numa casa de família e agora acredita que pode conseguir um emprego após concluir o curso no Brasil. “Sinto que estou melhorando, mas ainda não sei pronunciar algumas palavras. É um pouco complicado, mas estou muito agradecida pelo curso”, disse em português.

Aos 70 anos, Maria Encarnacion é uma aluna assídua no curso e mostra bastante desenvoltura quando o assunto é falar português. Casada e mãe de três filhos, ela fez questão de responder toda a entrevista falando pausadamente no novo idioma. “Sou casada e tenho três filhos. Eu preciso falar português porque quero ter uma vida melhor. Falar com as pessoas e poder entender o que elas dizem”, conclui. Maria, que hoje vive no abrigo Latife Salomão, já trabalhou como secretária no país de origem. “Sou muito agradecida com o professor também e gosto muito de falar em português. Já aprendi muitas palavras novas, por exemplo, os meses e os números. Antes eu não sabia pronunciar direito”, revela.

Do outro lado da tela

Como efeito da pandemia do novo coronavírus, os cursos estão sendo realizados virtualmente em sete abrigos de Boa Vista, gerenciados pela AVSI Brasil, e são ministrados pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac/RR).  Com turmas reduzidas e distanciamento entre os alunos, cada classe conta com um facilitador presencial. Eles prestam apoio para a utilização dos equipamentos, higienização da sala e monitoramento dos alunos.

Felipe Thiago, 23 é um dos professores que aplicam o curso em Boa Vista. Ele trabalha há três anos no Senac, onde leciona as disciplinas de Português como Língua Estrangeira (PLE) e Inglês. No abrigo Jardim Floresta, desenvolve o PLE para os venezuelanos e vê as aulas virtuais como um grande desafio. “Esse momento foi desafiador para todos nós. No início estávamos um pouco apreensivos, mas os cursos têm funcionado muito bem. Temos o apoio do facilitador que é, na verdade, o nosso braço dentro da sala de aula. Os alunos também interagem bastante, o que é muito bom”, avalia.

Com experiência de trabalho junto ao público venezuelano, Felipe também foi professor no programa Idioma Sem Fronteiras, na Universidade de Boa Vista. “Os venezuelanos são geralmente bem participativos nas salas de aula, o que nos motiva muito”, disse. Ele destaca dois questionamentos bem frequentes entre os alunos. Um é com relação a diferença entre a fonética do português e a escrita, em algumas situações específicas. O outro é com relação a gírias ou expressões que não contemplam a gramática oficial.

Sobre o curso

Cada centro de acolhimento conta com três turmas diárias, com carga horária de 80 horas por turma, de segunda a sexta-feira. O projeto irá beneficiar 330 venezuelanos na primeira fase. Ao final do curso, o aluno que apresentar 75% de presença receberá um certificado de conclusão com validade para todo o território brasileiro.

O projeto

O Acolhidos por meio do trabalho é implementado pela AVSI Brasil e Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), com o envolvimento da Fundação AVSI e AVSI-USA e financiado pelo Departamento de População, Refugiados e Migração (PRM) do Governo dos Estados Unidos.  Conheça outras ações do projeto neste link.