Garantir a interiorização voluntária de venezuelanos que estão abrigados em Roraima por meio de trabalho, e garantir condições de moradia e subsistência, são algumas das ações previstas no projeto Promovendo a integração por meio do emprego de refugiados e migrantes venezuelanos e outras pessoas vulneráveis no Brasil – Acolhidos por meio do trabalho, implementado pela AVSI, com o envolvimento da Fundação AVSI, AVSI-USA e AVSI Brasil,a parceria do Instituto Migrações e Desenvolvimento Humano (IMDH) e financiado pelo Departamento de População, Refugiados e Migrantes (PRM) do Governo dos Estados Unidos. O projeto visa fortalecer as ações da Operação Acolhida – força tarefa humanitária liderada pelo Governo Federal. A iniciativa conta com o apoio institucional da Casa Civil da Presidência da República e do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
A Venezuela enfrenta uma intensa situação política e econômica, que foi reconhecida pela comunidade internacional como uma crise humanitária. Como resultado dessa crise, milhares de venezuelanos fugiram pela fronteira brasileira em busca de abrigo, gerando pressões sociais e econômicas no estado de Roraima, especialmente nas cidades de Boa Vista e Pacaraima. Conforme dados divulgados pela Operação Acolhida, mais de 260 mil venezuelanos já solicitaram regularização migratória no Brasil. Cerca de 500 pessoas cruzam a fronteira para o Brasil todos os dias.
Desde 2018, a AVSI Brasil está atuando, em um esforço junto de vários atores, para maior sustentabilidade a longo prazo e impacto positivo sobre este tema. Atualmente a AVSI Brasil faz a gestão de oito dos trezes abrigos em Roraima, que acomodam cerca de sete mil pessoas. Por meio do projeto, a AVSI Brasil busca melhorar o acesso ao trabalho formal para refugiados e migrantes venezuelanos, bem como para grupos vulneráveis da população brasileira, além de facilitar a realocação voluntária de refugiados e migrantes atualmente hospedados nas cidades de Boa Vista e Pacaraima.
Entre as principais ações, o Acolhidos por meio do trabalho prevê a colocação no mercado de trabalho e interiorização de venezuelanos adultos com suas famílias, além da colocação no mercado de trabalho de brasileiros em situação de vulnerabilidade social; e cursos preparatórios vinculados ao mercado de trabalho e de língua portuguesa e formação em direitos e deveres laborais, entre outros aspectos. Segundo a gerente especial do projeto na AVSI Brasil, Thais Braga, cerca de 9.600 venezuelanos serão beneficiados diretamente, em dois anos, já que o projeto prevê que o venezuelano contratado esteja acompanhado de sua família.
Primeiro grupo será interiorizado para Santa Catarina
Um grupo com aproximadamente 88 venezuelanos desembarca em Chapecó (SC) no início deste mês, sendo que 68 deles já estão aptos para iniciar seus trabalhos em uma indústria frigorífica na cidade de Seara. Eles já passaram pelo processo seletivo realizado pela empresa e estão com as documentações e vacinas em dia. “Nesta ação específica, contamos com a parceria do Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados que viabilizou a oportunidade junto à empresa contratante”, explica Thais. Ela também afirma que uma parte dessas pessoas terá moradia em Xanxerê e a outra parte, em Seara. Todos os custos com as acomodações, bem como o acompanhamento social de três meses serão viabilizadas pela AVSI Brasil. “Nós entendemos que essa transição merece muita atenção, já que essas pessoas estão saindo dos abrigos de Boa Vista e Pacaraima e não contam com recursos para arcar com aluguel ou outras despesas neste momento”, explica. O projeto também contará com o apoio de uma assistente social que fará o acompanhamento junto ao grupo por três meses, visando apoiar a integração dessa população localmente e a comunicação com a empresa e entes locais.
Este é o primeiro grupo interiorizado pelo projeto e outras ações semelhantes serão realizadas em outros estados do Brasil no decorrer de dois anos.
Como funciona
A partir de um contato com empresas do país, a AVSI Brasil identifica os perfis e posições abertas, de acordo com a disponibilidade das organizações. A ONG cruza essas informações com os dados mantidos no sistema cadastral do Exército Brasileiro e dos abrigos de Boa Vista e Pacaraima e pré-seleciona potenciais candidatos para a vaga. Uma lista de currículos é gerada e enviada para que a empresa faça uma avaliação dos candidatos. A seleção para a realização de uma entrevista é realizada pela empresa, seguindo seu fluxo normal e de acordo com a sua política de recrutamento. Confirmada uma entrevista de emprego, a AVSI Brasil facilita o diálogo entre empresa e candidato, que pode ser realizado presencialmente, em Roraima, ou por meio digital. Com a aprovação do candidato pela empresa, a ONG apresenta as condições de trabalho e remuneração para os candidatos, além de facilitar a realização de exame psicológico e admissional em Roraima e também fica responsável pelo encaminhamento das pessoas selecionadas para a localidade da empresa (interiorização), junto ao Exército Brasileiro. Depois da interiorização a ONG administra um atendimento social da localidade, com a presença de um assistente social que fará o acompanhamento das famílias por um período de até três meses, além de conceder benefícios como habitação e assistência-alimentação.
“A AVSI Brasil acredita que a base familiar é um dos principais componentes para garantir uma interiorização digna e isso possibilita que este colaborador contratado possa se adaptar mais rapidamente ao ambiente de trabalho e a uma nova vida nesta cidade junto da sua família. Por isso incentivamos o acompanhamento do grupo familiar em todos os processos de interiorização voluntária deste projeto”, explica Thais.