Na Venezuela sempre fui uma mulher independente e autônoma. Com 8 anos, iniciei na dança contemporânea, me profissionalizei e tive minha própria escola por mais de 20 anos. Fui casada 3 vezes e tive 6 filhos. Em 1999, na conhecida Tragédia de Vargas, fui arrastada pela enxurrada por mais de 8km e perdi duas filhas, uma de 12 e outra de 21 anos. Apesar de ter dificuldades de mobilidade, devido a esse incidente da natureza, me senti forte para continuar a dançar.
Após a tragédia, mudei para o estado de Bolívar, onde continuei meu caminho com a dança e construí um atelier de cerâmica. Eu e meus filhos tínhamos uma vida boa. Com os anos, a situação política e econômica de nosso país, Venezuela, começou a ficar cada vez mais difícil. Com isso, meus filhos e uma parte de suas famílias partiram em busca de uma vida melhor. Dois deles vieram para o Brasil e uma filha foi para o Chile. Eu fiquei com dois netos e em 2019 vim para trazer as crianças para os pais. Minha ideia era voltar a Bolívar, mas devido a situação que nos encontrávamos, decidimos que ficar no Brasil seria mais seguro.
Quando cheguei em Pacaraima (RR) fui recepcionada no abrigo BV8, fui muito bem atendida, inclusive tive um espaço para ministrar aulas de dança para as crianças. Devido a meu estado de saúde fragilizado, eu pesava 35kg na época, fui ajudada pelo coronel responsável pelo abrigo a vir para Boa Vista (RR), onde fui acolhida pela AVSI Brasil e estou vivendo aqui há 2 meses, no Abrigo São Vicente.
Em muitos momentos, viver no abrigo me faz lembrar a tragédia que vivi em 1999, mas, por outro lado, conheci pessoas maravilhosas que me orientaram, cuidaram de mim e me fizeram recordar que sou uma bailarina. Aqui tivemos a oportunidade de realizar uma belíssima apresentação de dança contemporânea com as crianças e adultos, foi um momento emocionante.
Me sinto maravilhosamente bem em relação a AVSI. A equipe do projeto é muito boa, sou cuidada e amada. Só tenho a agradecer por tudo e dizer que levarei cada um de vocês no meu coração.