Nasci na Venezuela, lá eu morava com meu marido, meus sogros e meus três filhos. Devido a deterioração das condições de vida lá, decidimos nos mudar para o Brasil. Na Venezuela o salário não era suficiente para nós, não havia professores nas escolas dos meus filhos. Não tínhamos como comprar os remédios para minha mãe, que sofre descalcificação óssea, eu queria trabalhar para poder comprá-los.
Quando vim para o Brasil com meus três filhos, a intenção era encontrar meus sogros, que já estavam no abrigo Latife Salomão. Como trouxemos uma certa quantidade de dinheiro, conseguimos alugar uma casa por um mês e meio, juntamente com outras duas famílias, até que o dinheiro acabou. Sofri muita discriminação para encontrar um emprego. Eles falavam “não contratamos venezuelanos porque não queremos venezuelanos aqui”. Então comecei a coletar latas com meu sogro e meus dois filhos mais velhos.
Uma noite, enquanto coletava latas, senti uma dor de estômago muito forte, onde meu estômago doía tanto quanto a barriga de uma mulher parindo. Na manhã seguinte fui levada ao Hospital Geral de Roraima, fiz uma cirurgia de emergência devido à apendicite fase IV.
Após dois dias de internação, deixei o hospital e conseguir ser alocada no abrigo Latife Salomão. Cheguei ao abrigo às 4 da tarde, com a pressão baixa, tive que ser tratada pela enfermeira do abrigo pois a ferida estava começando a infeccionar. Eu não estava acostumada a morar com tantas pessoas, senti medo, já para as crianças a adaptação foi mais fácil.
Quando a AVSI assumiu a coordenação do abrigo, eu já morava aqui e tinha um pouco de medo pela mudança de gestão, por não saber o que esperar, mas depois que eles chegaram vi o lado bom. O pessoal da AVSI não é apenas um grupo de pessoas que trabalha na manutenção do abrigo, mas eles sempre conversam, sempre me deixam ver um lado bom, é isso que eu gosto na AVSI, o grande coração que eles têm.
É muito bonito ver que os colaboradores da AVSI não estão apenas trabalhando por dinheiro, mas também para apoiar os venezuelanos. Isso me motiva, não apenas a colaborar, mas a buscar soluções para meus problemas diários, junto com minha família.
Hoje, eu e minha família esperamos para ser interiorizados na cidade de Curitiba, isso é que mais me empolga, pois era algo que eu esperava e agora consegui. Minha felicidade é ter um emprego e uma casa onde estaremos todos juntos.
Agradeço a todo o pessoal da AVSI, sou muito grata a todos. Onde quer que eu esteja, sempre estarei desejando boas energias. Ainda não consigo encontrar uma maneira de agradecê-los pelo tratamento que deram a toda a minha família.