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Dia Internacional da Mulher: as histórias de venezuelanas que migraram para o Brasil em busca de melhorias de vida

Elas sonham com mais dignidade, respeito e oportunidades de trabalho

O que celebrar no Dia Internacional da Mulher? Para as venezuelanas acolhidas nos abrigos em Roraima, as respostas são as mais variadas possíveis. Chegando no Brasil, elas puderam sonhar com uma vida melhor, com mais dignidade e respeito. Nos centros de acolhida, enquanto ainda não estão inseridas no mercado de trabalho, traçam planos, apoiam umas às outras e cuidam de suas famílias.

Durante o tempo que passam no local, o pensamento positivo é o que fortalece a esperança de um futuro melhor. “Eu sempre acredito que podemos sair da comunidade, que cada um de nós terá sua própria casa e que conseguiremos dar um futuro melhor para nossos filhos. Na sociedade, na educação e na saúde. E é isso que todas nós que estamos em refúgio temos muito em comum”, diz a venezuelana Eucarina Palma.

Quem também compartilha desse sentimento de apoio e empatia é Genesis Mendonza. “Costumo dizer para essas mulheres que se encontram na mesma situação que eu, para nunca desistirem. Apesar das muitas dificuldades que aparecerem pelo caminho, é preciso continuar sempre otimista, perseverante e lutar pelo que você realmente quer. Só assim chegaremos onde desejamos, ter a vida que sonhamos”, aconselha ela.

É esse laço de apoio que as fazem valorizar a importância da mulher no cenário social. “O dia é muito importante para mim, porque nós temos um papel fundamental na sociedade. Somos multifacetadas, tanto psicologicamente quanto fisicamente para a família… Porque somos boas em muitas coisas. E, às vezes, não parece que fazemos tantas coisas porque agimos em silêncio. Fazemos tudo, mas nem sempre é perceptível a todos”, afirma Eucarina.

Yukeila Rondón também reforça o sentimento com relação a data. “Somos muito valiosas, somos importantes. A mulher é um ser que faz muitas coisas ao mesmo tempo, que faz todo tipo de trabalho. Por isso eu digo sempre às minhas companheiras que continuem. Continuem se esforçando e buscando o que querem, que sigam correndo atrás dos sonhos. Todas somos muito capazes de realizar o que sonhamos”, declara.

E quando questionadas sobre um desses sonhos, elas mencionam que almejam uma vaga de trabalho no mercado brasileiro. “Nós não paramos de persistir, mantemos a perseverança. Não vai ser fácil, porque nem tudo é fácil, mas eu acho que quando as coisas custam um pouco mais para conseguir, você valoriza mais. E desejo que nenhuma de nós desanime na hora de fazer seus planos. A perseverança é algo importante. Desejo que elas coloquem todo o seu amor e esforço em tudo o que vão fazer”, motiva Eucarina.

Inserção no Mercado de Trabalho

A principal meta da maioria das mulheres que estão nos centros de acolhida é ter a chance de ser economicamente ativa. “Meu sonho é trabalhar em uma boa empresa, ganhar um bom salário para dar um futuro melhor para minha filha, para que ela estude, tenha uma boa educação. Também pretendo poder trazer minha família, que está na Venezuela. Já tenho quase um ano sem vê-los”, conta Genesis.

Uma pesquisa divulgada em dezembro pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), ONU Mulheres e Fundo de População das Nações Unidas  (UNFPA) revelou que, apesar de as mulheres possuírem um índice de escolaridade maior, elas têm menos da metade das chances que os homens de irem para outros estados do Brasil com a garantia de uma Vaga de Emprego Sinalizada (VES).

Das mais de 66 mil pessoas venezuelanas interiorizadas desde 2018 pela Operação Acolhida, as mulheres com VES correspondem a apenas 3%, de acordo com dados oficiais divulgados em janeiro de 2022.  Um desses casos é o de Genesis. “Estou em processo de trabalho, na verdade ele já saiu. Consegui um emprego para São Paulo, mas ainda estou esperando resposta. A empresa precisa dar uma posição sobre o aluguel para que eu e minha filha possamos ir para lá”, explica ela.

Capacitação para mulheres

Enquanto aguardam a oportunidade e torcem pelo fim da desigualdade no mercado de trabalho, elas fazem de tudo para se manterem produtivas e firmes no propósito. “Sempre que aparece alguma oficina para fazer aqui, eu faço. Não gosto de ficar ‘encostada’. Procuro sempre sair para encontrar coisas pra fazer, porque eu sou uma mulher ativa, eu gosto de trabalhar. É por isso que mantenho a esperança e sigo em busca de achar um emprego firme, estável”, revela Carmem Cecília, de 60 anos.

Uma das capacitações a qual Carmem se refere acontece através do projeto Empoderando Refugiadas, que é realizado pelo ACNUR, ONU Mulheres e Rede Brasil do Pacto Global, com o apoio da AVSI Brasil. O projeto fomenta o acesso de mulheres em situação de refúgio ao mercado de trabalho brasileiro por meio de capacitação, sensibilização do setor privado e interiorização voluntária para outras cidades.

O projeto chegou em 2019 aos abrigos de Boa Vista sob a liderança da Lojas Renner, capacitando e empregando mulheres que viviam nos abrigos São Vicente e Rondon II. Vinte e cinco mulheres – 20 refugiadas venezuelanas e cinco brasileiras em vulnerabilidade social – participaram da formação ministrada pelo Instituto Aliança sobre assuntos relacionados à moda, varejo, atendimento e cultura brasileira. Todas foram contratadas para atuar em unidades da Lojas Renner.

Em 2020, o Empoderando Refugiadas contou com duas turmas inéditas, dedicadas a refugiadas com deficiências, doenças crônicas e/ou com necessidades especiais, além de outras interseccionalidades, como mulheres com mais de 50 anos, grávidas e LGBTQI+ e mulheres cujos familiares têm deficiências e eram as únicas provedoras de renda da família.