330 imigrantes e refugiados venezuelanos que estão abrigados nos centros de acolhimento da Operação Acolhida em Boa Vista, começaram a estudar português gratuitamente, sem precisar sair do abrigo onde estão, neste mês. A iniciativa faz parte do projeto Acolhidos por meio do trabalho, que visa apoiar a integração de venezuelanos no Brasil.
As aulas virtuais são ministradas pelo Senac Roraima e contam com sete facilitadores que atuam presencialmente nos abrigos. O jovem Mario Isnardo, 20, é um deles. Nascido na Venezuela, ele migrou para o Brasil junto com seus pais e a irmã caçula há um ano e oito meses.
“Desde cedo tive que conciliar os estudos com o trabalho, pois tinha que ajudar com as despesas da casa. Já trabalhei em uma panificadora e logo depois que terminei os estudos, também trabalhei em um restaurante chinês, cozinhando”, conta Mario.
Nesta época, o pai, Mário Vicente, 51, decidiu vir para o Brasil para ver se conseguia um emprego e então, trazer a família. Ele ficou cerca de um ano no Brasil, mas voltou para a Venezuela, pois não conseguiu nada. “Foi um período muito difícil, pois ele ficava nas ruas. Então ele acabou voltando para casa, mas não desistiu do plano. Logo depois tentou novamente uma chance no Brasil e depois de cinco meses conseguiu um trabalho”, recorda o filho. Depois de um ano, Mário Vicente conseguiu trazer a esposa, Qretsi Josefina, 44, e a filha mais nova, Irelismar Valentina, 14, para morar no Brasil. O filho ficou na Venezuela, pois a família não conseguiu arcar com os custos de mais uma passagem. Dois meses depois, um tio o levou de carro até Pacaraima, na fronteira com o Brasil, onde a sua mãe estava aguardando.
O venezuelano conta que a adaptação da família foi muito positiva. “A nossa vida era boa antes da crise no nosso país. Não éramos ricos, nem tampouco miseráveis. Tínhamos uma casa, um trabalho e mantimentos. Só que veio a crise e a nossa situação foi ficando mais complicada. Hoje a vida no Brasil está melhor, pois aqui é um lugar de muitas oportunidades”, afirma. Além do novo emprego de Mário Isnardo, a família também sobrevive com o salário do pai, que está trabalhando em um supermercado.
Sobre o idioma, o jovem diz que sentiu certa dificuldade para se comunicar quando chegou no Brasil. “Algumas pessoas não têm paciência para conversar com quem não sabe falar direito. Já outras pessoas, nos ensinam e nos corrigem quando falamos algo errado. Eu tinha muita vontade de me expressar melhor. Eu adoro conversar, então fui me adaptando e tentava conversar com as pessoas nas ruas, pois não tive a oportunidade de fazer um curso gratuito”, explica.
Mario Isnardo atua diariamente como facilitador no curso de português do abrigo Jardim Floresta, que comporta cerca de 500 pessoas. Além deste abrigo, outros seis também oferecem o curso de língua portuguesa: Rondon 1, 2 e 3, Laftife Salomão, São Vicente 1 e Santa Teresa.
Atualmente cerca de cinco mil venezuelanos estão abrigados nos centros de proteção gerenciados pela AVSI Brasil, aguardando uma oportunidade no Brasil. “Eu considero muito importante um curso gratuito para quem está nesses abrigos. Acho que é uma grande chance para que possam se comunicar direitinho e também facilita na hora de procurar um trabalho. Pela minha experiência, quando eu procurava emprego antes, as pessoas sempre pediam a fluência. Além disso, eles terão mais facilidade para fazer outros cursos e aprender coisas novas, pois vai ficar muito mais fácil. É uma oportunidade muito legal e espero que seja bem aproveitada por todos”, conclui.
Para o futuro, Mario Isnardo deseja abraçar todas as chances que puder e aprimorar o idioma até ficar fluente no Brasil. “Quero continuar trabalhando, adquirir uma casa, um carro e conseguir pagar meus estudos numa faculdade. Também penso em fazer novos cursos e seguir enfrentando os desafios junto com a minha família”, espera o venezuelano.