Yuliannis Malchan, 25 anos, levava uma rotina estável na Cidade Guayana, na Venezuela, localidade conhecida popularmente como a Terra do Ouro, porém com a crise que se alastrou em seu país a partir de 2018, boa parte da população se viu cada vez mais distante da riqueza oferecida pelo nobre metal. A família da Yuliannis foi uma delas e, mesmo trabalhando, a situação ficou cada vez mais difícil para manter a estabilidade. “Tinha uma vida tranquila. Uma casa, carro e trabalho. Eu cursava duas faculdades: Matemática e Contabilidade Estatística e trabalhava com serviços gerais em empresas privadas. Aos finais de semana, ainda fazia trabalhos voluntários com pessoas carentes da minha cidade”, recorda a venezuelana.
Com a situação financeira ficando cada vez mais escassa, em 2018 ela e o marido começaram a estudar alternativas para continuar a vida em outro lugar. As opções iniciais eram Peru e Brasil. “Eu li que o Brasil é chamado de gigante e pensei que poderia ter mais oportunidades. Apesar da barreira do idioma, decidimos migrar. Vendemos nossa casa, nosso carro e todas as outras coisas para juntar dinheiro e seguimos para o Brasil”, disse.
Eles atravessaram a fronteira por Pacaraima, onde ficaram três dias para fazer todas as documentações. Depois foram para Boa Vista, onde foram recebidos na casa de amigos venezuelanos que já estavam estabelecidos no país.
Segundo o casal, a adaptação foi rápida, porém no início tinha muita dificuldade com o idioma. “No início, consegui trabalho com diárias de babá e faxina, mas não entendia nada do que me falavam. O idioma é uma grande barreira para quem chega de fora. A língua portuguesa se fala de uma forma e escreve de outra, então eu ficava escutando tudo com muita atenção e perguntava o nome das coisas. Depois eu escrevia e ficava lendo, para tentar falar igual”, revela.
Hoje Yuliannis trabalha diariamente no abrigo Santa Teresa, como facilitadora no curso de português para refugiados e migrantes venezuelanos em Boa Vista. A iniciativa é da AVSI Brasil, através do projeto Acolhidos por meio do trabalho, que visa apoiar a integração de venezuelanos no Brasil. Além do Santa Teresa, outros seis abrigos também contam com o curso de português: Rondon 1, 2 e 3, Laftife Salomão, São Vicente 1 e Jardim Floresta.
“Acho que o curso é muito importante para que os venezuelanos possam superar esse obstáculo do idioma e recomeçar a vida com um trabalho, além de conseguir dialogar no dia-a-dia com mais propriedade”, diz a facilitadora.
Quanto ao futuro, Yuliannis pretende concluir a faculdade e crescer profissionalmente no Brasil. O casal já conseguiu financiar um terreno em Boa Vista e construiu dois cômodos da casa, onde mora com uma filha e duas netas. O marido, Diógenes, realiza trabalho com diárias de limpeza de terrenos e outros serviços gerais na cidade.
O projeto
O Acolhidos por meio do trabalho é gerenciado pela AVSI Brasil e Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), com o envolvimento da Fundação AVSI e AVSI-USA e financiado pelo Departamento de População, Refugiados e Migração (PRM) do Governo dos EUA. Entre as principais ações, o projeto prevê a colocação no mercado de trabalho e interiorização de venezuelanos adultos com suas famílias, além da colocação no mercado de trabalho de brasileiros em situação de vulnerabilidade social; e cursos preparatórios vinculados ao mercado de trabalho e de língua portuguesa e formação em direitos e deveres laborais, entre outros aspectos Conheça mais ações do projeto neste link