O centro de acolhida para refugiados e migrantes venezuelanos Casa Bom Samaritano (CBS) foi o local escolhido, nesta terça-feira (17/09), para a apresentação dos resultados da segunda fase do projeto “Acolhidos por Meio do Trabalho”, que abrange o período de 2021 a 2023. O projeto contribui para o processo de integração socioeconômica de famílias venezuelanas que chegaram ao Brasil, promovendo, dentre outros aspectos, oportunidades de inclusão no mercado de trabalho.
Realizado pela AVSI Brasil, o evento contou com a participação de parceiros estratégicos do projeto Acolhidos, representados por: Wolfgang Bindseil, ministro da Embaixada da Alemanha no Brasil; Regis Spindola, diretor do Departamento de Proteção Social da Secretaria Nacional de Assistência Social do MDS – Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome; Luke Durkin, primeiro secretário para Assuntos Políticos da Embaixada dos Estados Unidos; Davide Torzilli, representante da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) no Brasil; Paolo Giuseppe Caputo, chefe da missão no Brasil, da Organização Internacional para as Migrações (OIM); Irmã Rosita Milesi, diretora do Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH); Fabrizio Pellicelli, presidente da AVSI Brasil; Petrick Costa, gerente do projeto Acolhidos, pela AVSI Brasil. Colaboradores da AVSI de diversas cidades do Brasil e de países da América Latina, migrantes e refugiados acolhidos na CBS também prestigiaram o evento.
Iniciado em 2018, o projeto Acolhidos apoia o processo de interiorização (deslocamento voluntário) de Roraima para outros estados brasileiros, realizado pela Operação Acolhida (resposta humanitária do governo federal para o fluxo migratório de pessoas venezuelanas no Brasil).
“Este espaço da Casa Bom Samaritano é fruto de um trabalho em conjunto que acolhe, protege, promove e integra as pessoas refugiadas e migrantes desde Boa Vista até a chegada aqui em Brasília, e também para fora dela. Através das modalidades de interiorização por vaga de emprego ou abrigo, onde a AVSI Brasil realiza o apoio para o deslocamento, conseguimos alcançar muitas pessoas e fazer parte desse percurso de desenvolvimento junto a organizações parceiras”, destaca o presidente da AVSI Brasil, Fabrizio Pellicelli.
Com foco na integração e empregabilidade, a AVSI Brasil, por meio do projeto Acolhidos, atua em conjunto com o Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH) na promoção de atividades de capacitação profissional e educacional para venezuelanos em incentivo à inserção no mercado de trabalho. Pelo projeto, há o auxílio através de duas modalidades de interiorização: 1) por Vaga de Emprego Sinalizada (VES), com a saída de abrigos em Roraima (RR) para cidades brasileiras já com oferta de emprego formal; 2) por interiorização institucional (abrigo-CBS), partindo de Boa Vista (RR) para Brasília (DF), com destino na Casa Bom Samaritano. Em ambos os casos, os refugiados e migrantes recebem apoio assistencial durante três meses para o desenvolvimento da autonomia no Brasil.
Durante o evento, foi apresentada uma pesquisa realizada pela Pólis Pesquisa sobre a avaliação do projeto Acolhidos. Foram entrevistados 659 venezuelanos em diferentes etapas do projeto, incluindo pessoas que foram interiorizadas (por Vaga de Emprego Sinalizada ou por Abrigo-CBS) e também foram entrevistadas pessoas que permaneceram em Boa Vista. Os dados apresentados na pesquisa fazem um comparativo entre as modalidades, indicando que há uma forte associação entre a empregabilidade e o processo de interiorização, refletidos na independência financeira das famílias apoiadas pelo projeto.
“O percurso que essa população enfrenta desde a sua saída na Venezuela até a sua chegada no Brasil é um caminho de muita resiliência e luta. Os resultados presentes na publicação demonstram que existe uma solução para a integração dessa comunidade no país. As ações coordenadas entre diversos atores, aliados ao apoio da AVSI na cidade de acolhida, reforçam o objetivo do projeto, que é o de integrar essa população à sociedade brasileira”, comentou o gerente do projeto Acolhidos, Petrick Costa.
A partir da análise foi possível observar que a taxa de emprego formal para refugiados e migrantes venezuelanos aumentou de 5% para 65,8% entre pessoas interiorizadas, enquanto que a taxa de desemprego caiu de 49,6% para 8%. Quando observado o rendimento médio de trabalho entre pessoas interiorizados, o valor subiu de R$ 1.119,00 (Boa Vista) para R$ 1.830,00 (em outras cidades do país), representando um aumento de 63,5% por pessoa.
Em um comparativo entre modalidades para o rendimento médio familiar, os refugiados e migrantes venezuelanos interiorizados por VES tiveram melhores resultados de empregabilidade e em relação a modalidade por abrigo, apresentando um valor de R$ 3.560 para VES e de R$ 2.774 para Abrigo-CBS.
O projeto Acolhidos atua junto com empresas intermediando a contratação de refugiados e migrantes no Brasil. Considerando os parceiros dos anos de 2021 até 2023, a pesquisa indica que os setores com maior empregabilidade de imigrantes são: agroindústria (43,8%), serviços em hotéis, bares e restaurantes (19,5%) e construção civil (14,2%).
“É preciso fazer tudo o que está ao nosso alcance para promover um espaço acolhedor e que incentive as pessoas a seguirem em desenvolvimento. O hotel teve uma primeira experiência com contratação de uma pessoa da Casa Bom Samaritano e, desde então, formamos uma parceira muito significativa, porque temos alinhado esse compromisso com a contratação de refugiados e migrantes venezuelanos”, reforça Thaís Carvalho, coordenadora de RH da empresa Royal Tulip, parceira do projeto.
Em um cenário mais amplo, o trabalho desenvolvido pelo projeto Acolhidos, em conjunto com órgãos federais, organizações internacionais e da sociedade civil, fortalece a integração de famílias venezuelanas no Brasil, aumentando a autonomia dos grupos familiares, a integração social nos municípios de destino, a qualificação educacional, e até mesmo a percepção de satisfação e felicidade no país, de dignidade e acesso aos direitos humanos.
INAUGURAÇÃO DA HORTA AGROECOLÓGICA DA CBS
O evento também marcou a inauguração da horta urbana do centro de acolhida Casa Bom Samaritano (CBS), desenvolvida em parceria com o Governo da Alemanha, por meio da Embaixada da Alemanha no Brasil. O espaço intitulado como “Cultivando Esperança: poço e horta de alimentos para migrantes venezuelanos” tem como objetivo promover uma fonte sustentável de alimentos frescos e saudáveis aos acolhidos, abordando a educação ambiental, senso de coletividade e oportunidades de renda com o aprendizado dos cultivos.
Todos os produtos são cultivados em um sistema de cogestão, onde um grupo de acolhidos devem passar por uma capacitação e, logo, se tornarem multiplicadores desse conhecimento aos novos abrigados no espaço. Pensando a partir da sustentabilidade, a horta tem um ciclo social e ecológico destinado aos moradores.
SOBRE A CASA BOM SAMARITANO
O centro de acolhida, que conta com gestão da AVSI Brasil e do Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), atua no acolhimento para o desenvolvimento social e econômico de famílias de venezuelanos refugiados e migrantes dentro do processo de interiorização para outros estados. Portanto, é parceiro da Operação Acolhida, estratégia de resposta humanitária ao fluxo venezuelano coordenada pelo Governo Federal.
O imóvel onde funciona a Casa Bom Samaritano foi cedido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) ao projeto Acolhidos por meio do trabalho e conta com 18 quartos/dormitórios, cozinha equipada, refeitório e louçaria, lavanderia, brinquedoteca, salas de aula para cursos, auditório e plataforma elevatória para pessoas com deficiência.
O PROJETO ACOLHIDOS
O Acolhidos Por Meio Do Trabalho é implementado pela AVSI Brasil e Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), e conta com financiado pelo Escritório de População, Refugiados e Migração dos Estados Unidos (PRM). O projeto contribui para fortalecer as ações da Operação Acolhida e conta com o apoio estratégico da Fundação AVSI e AVSI-USA, Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), Organização Internacional para as Migrações (OIM) e Rede Brasil do Pacto Global.