No período de 16 a 23 de fevereiro, a equipe do Projeto visitou instituições previamente mapeadas nas cidades de Florianópolis (SC) e Recife (PE). As visitas tiveram o objetivo de conhecer como estas instituições funcionam, criando e fortalecendo uma rede de trocas de conhecimento e inovações tecnológicas na área de economia circular, agroecologia e integração intercultural comunitária.
Florianópolis e a diversidade de iniciativas.
A cidade de Florianópolis, em Santa Catarina, se destaca por múltiplas ações e premiados projetos. A equipe do Projeto visitou os vários empreendimentos da cidade, conduzidos pelo engenheiro agrônomo Júlio César Maestri, do Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (CEPAGRO). A CEPAGRO é uma Associação sem fins lucrativos, referência na área de agroecologia. Com atuação em espaços deliberativos como conselhos de segurança alimentar e meio ambiente, seus projetos já beneficiaram diferentes populações em vulnerabilidade, como comunidades tradicionais, quilombolas, indígenas, caiçaras, ribeirinhos e populações de regiões periféricas, além de agricultores familiares e assentados de reforma agrária.
Em visita à Unidade de Hotelaria Cacupé, pertencente ao SESC Florianópolis, a equipe foi recebida pelo coordenador de educação ambiental Renato Trivella. Foi apresentado o modelo de gestão de resíduos orgânicos utilizado pela instituição, observando-se as etapas e procedimentos do ciclo de compostagem, desde a separação dos rejeitos no restaurante, passando pelo armazenamento em bombonas, pesagem, logística interna e o manejo no pátio.
O segundo empreendimento visitado foi o Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) Centenário. Nele, a equipe foi apresentada às atividades de envolvimento comunitário e criação de vínculos que acontecem no entorno de uma horta comunitária. A psicóloga da unidade, Alvira Bossy, relatou como o projeto inicial de cultivo de alimentos e plantas medicinais com composto, fornecido pelo Programa Municipal de Agricultura Urbana, superou as expectativas. As beneficiárias do projeto, entre elas migrantes venezuelanas, batizaram a horta de Madre Siembra, em referência ao sentimento de acolhimento maternal.
O terceiro a receber os membros do projeto foi a Associação de Mulheres Revolução dos Baldinhos, referência na gestão comunitária de resíduos orgânicos e agricultura urbana, onde foram recebidos pela atual presidente, Cínthia Cruz, líder comunitária. A organização atua como um ponto de cultura e promoção de empreendimentos sustentáveis. Suas ações são diversificadas, como a confecção de roupas e bolsas a partir de tecidos reaproveitados; o brechó gratuito; a biblioteca livre; a cozinha comunitária com entrega de cestas básicas; e o centro de produção de sabão com óleo de fritura.
Em seguida, foi realizada visitação à feira de produtos orgânicos e agroecológicos que acontece semanalmente no Centro de Ciências Agrárias (CCA) da UFSC.O evento faz parte das ações de um grupo do projeto Células de Consumidores Responsáveis (CCR), organizado pelo laboratório de comercialização da agricultura familiar (LACAF/UFSC).
Outro empreendimento visitado foi o Pátio de Compostagem da Companhia de Geração e Transmissão de Energia Elétrica do Sul do Brasil (CGT ELETROSUL). A equipe foi recebida pelo presidente Antônio Carlos que apresentou a empresa controlada pela Eletrobrás e seus projetos ambientais, como o cultivo de hortas abaixo de linhões de energia.
No local, a equipe do Projeto Boa Vista Acolhedora conheceu o sistema do pátio de compostagem. Nele as plantas recebem os resíduos orgânicos do restaurante da unidade, das podas das árvores e das folhas da varredura das instalações. O espaço é organizado em leiras de compostagem e caixas d’água para produção de biofertilizantes (adubo líquido ou chorume é um subproduto da degradação da matéria orgânica).
A última visita realizada foi ao Centro de Valorização de Resíduos (CVR) da SMMA COMCAP, que conta com um Ecoponto bem organizado, uma biblioteca e um museu do lixo, formados com materiais resgatados.
Um dos cinco Ecopontos mantidos pela Prefeitura, a unidade de Itacorubi é uma das maiores e recebe descartes em contêineres específicos, de acordo com os seguintes grupos: eletrônicos, entulho, madeira, pilhas e baterias, óleo de cozinha, pneus, podas de árvores, recicláveis (plástico, papel, metais, arames, vidros, isopor, etc.), além de eletrodomésticos e itens volumosos (sofás, móveis, colchões, etc.).
Instalado em 2003, o Museu do Lixo é uma atração à parte. Elaborado com materiais resgatados do lixo, o museu conta com um acervo bastante diverso e muito inspirador para atividades de Educação Ambiental e Economia Circular. Fruto de iniciativa de funcionários que começaram a armazenar materiais descartados com a intenção de montar um projeto de sensibilização e um centro de Educação Ambiental. Recebem visitas de escolas e grupos espontâneos.
Recife e as iniciativas com tecnologia de ponta.
A capital Recife, no Estado de Pernambuco, tem investido em soluções exitosas a partir da Secretaria de Agricultura Urbana e de empreendimentos sustentáveis.
A primeira visita realizada na capital foi ao CEASA-PE, sob o acompanhamento de Fátima Gonçalves, Coordenadora do Programa Adubo Sustentável do Centro de Abastecimento e Logística de Pernambuco (Ceasa (PE)). Os resíduos orgânicos do CEASA (PE) são encaminhados para a empresa Lógica Ambiental que devolve o material em forma de adubo. O adubo orgânico é distribuído à pequenos agricultores pelo Programa Adubo Sustentável.
Outro programa que funciona dentro do complexo da CEASA (PE) é o Sopa Amiga que tem uma indústria equipada para a produção de alimentos com o reaproveitamento do excedente não comercializado de produtos hortícolas, que apresentam ainda boas condições para o consumo humano. O programa distribui cerca de 2.500 refeições por dia, com controle de qualidade e alto valor nutricional.
A segunda visita na Capital Pernambucana foi à prefeitura de Recife, onde o titular da Secretaria Executiva de Agricultura Urbana, Leonardo Bacelar, apresentou os projetos atuais. Com ênfase em agroecologia, segurança alimentar e economia solidária, os projetos da secretaria incentivam hortas escolares e institucionais (projeto Horta em Todo Canto, Hortas Sagradas em Terreiros), 42 feiras, coleta de orgânicos e compostagem.
Em 2021 foi promovido o I Seminário de Agricultura Urbana de Recife, onde foi lançado o projeto de diagnóstico de iniciativas, ponto de partida para a elaboração do atual Plano Municipal de Agricultura Urbana, que prevê a implantação de 180 estruturas de produção – como hortas comunitárias e pomares – no município até 2024. O gerente salientou que pretendem fazer um mapa de georreferenciamento das áreas ociosas e quintais produtivos, entre outros pontos.
Outro empreendimento visitado foi a Lógica Ambiental, um modelo de negócios ambientais, com volume, tamanho, maquinários e tanques bem estruturados. A instituição recebe resíduos e rejeitos de todo o município e arredores e realiza tratamento de água de esgoto e produção de adubos em larga escala. Na oportunidade, a equipe conheceu os laboratórios, galpões, leiras de compostagem, peneira, biodigestor e até um projeto experimental de fabricação de tijolos de adubo com resíduos orgânicos.
Outra instituição voltada ao empreendedorismo ambiental, a Empresa Municipal de Limpeza Urbana (EMLURB) também recebeu a visita dos membros do Boa Vista Acolhedora. Focada na gestão de resíduos orgânicos e compostagem, a empresa recebe uma grande quantidade de material diariamente. Lá utiliza-se o sistema de peneira circular para o tratamento final do composto, que é então destinado a hortas escolares, comunitárias e a pequenos agricultores.
A equipe visitou também a Universidade Federal de Pernambuco, onde há forte investimento no desenvolvimento de tecnologias. Destaca-se o Projeto BERSO com foco na otimização de recursos com soluções de baixo custo que possam ser facilmente replicadas. Na oportunidade, os professores e pesquisadores Rômulo Menezes e Manoel de Castro mostraram o projeto COOPERE-UFPE, que atua na compostagem dos resíduos gerados no campus e no fomento ao desenvolvimento de novas tecnologias.
Outro projetos da UFPE são: a usina de biodisel de baixo custo, a partir do tratamento de óleo de fritura; O sistema de captação de água da chuva com filtro e cisterna; o biodigestor com capacidade para 180 m³, com filtragem por gravidade; a horta modelo pedagógica e as leiras, que são manejadas por tratores cuja utilização é compartilhada com outros departamentos.
Finalizando o período de visitação, a equipe do Projeto retornou a Boa Vista (RR), com grande aprendizado e trazendo novas experiências. Recife com seu foco tecnológico e Florianópolis com seus empreendimentos comunitários, têm muito a ensinar, e, apesar do contexto roraimense ser diferente, os conhecimentos adquiridos podem ser adaptados e remodelados para atendimento aos objetivos do Projeto.
O Boa Vista Acolhedora
O projeto Boa Vista Acolhedora objetiva apoiar o processo de desenvolvimento equitativo, sustentável e inclusivo, no contexto de recuperação pós pandemia da COVID-19 e da multiculturalidade na Amazônia Legal. Busca fortalecer as capacidades da sociedade civil para promover a autonomia de agricultores familiares, de pessoas migrantes e refugiadas venezuelanas, mulheres e povos indígenas, por meio do desenvolvimento de boas práticas intersetoriais de economia circular, inclusiva e regenerativa.
Para tanto, esta iniciativa da AVSI Brasil, em parceria com a Fundação AVINA e a Escola Agrícola de Manaus, financiada pela União Europeia, buscou entre parceiros no Brasil mapear as principais iniciativas similares, organizações que desenvolvem atividades que podem apresentar mesmo o potencial de aplicabilidade na Cidade de Boa Vista/RR.