Marianny vivia com o marido e três filhos no abrigo São Vicente 1, em Roraima, e hoje mantém o sustento da família a partir do emprego que conquistou em Brasília
A venezuelana Marianny, 30, tinha uma vida estável no estado de Monagas, onde vivia com o marido e seus três filhos, numa casa própria. Durante 14 anos, o marido Juan, 35, manteve o sustento da família, trabalhando no setor petroleiro e Marianny cuidava dos filhos, em casa. Porém, com a crise econômica e social instaurada em seu país, garantir o básico foi ficando cada vez mais difícil para ele. No final de 2019, sem muitas oportunidades de um trabalho melhor, e com parte da família estabelecida no Brasil, Marianny e Juan resolveram deixar tudo o que haviam conquistado e seguir para Boa Vista, em Roraima, em busca de uma nova chance, mas eles não esperavam que a vida daria uma grande reviravolta.
“Minha mãe veio primeiro, porque foi diagnosticada com câncer e precisava buscar um tratamento adequado. Escutamos falar que no Brasil havia este tratamento. Então ela saiu da Venezuela com minha irmã e ficaram por um período no abrigo da Operação Acolhida, em frente a rodoviária de Boa Vista e, em seguida, elas conseguiram lugar no abrigo São Vicente 1. Mas logo depois ela piorou, então eu resolvi migrar para o Brasil
com a minha família, também para cuidar dela”, recorda. A situação da mãe de Marianny, porém, ficou mais grave e ela foi internada num hospital local, mas em aproximadamente um mês, infelizmente não resistiu.
Depois deste período difícil, Marianny e sua família passaram a viver no abrigo São Vicente 1, onde puderam se reestabelecer e começaram a colaborar com trabalhos voluntários, por alguns meses. Juan também realizava alguns trabalhos fora do abrigo, com diárias de serviços gerais, ocasionalmente – mas o casal sonhava com um emprego fixo, que garantisse uma vida melhor para os filhos.
Na metade do ano, a oportunidade de emprego surgiu com uma seleção aberta pelo grupo Levvo e o apoio da organização humanitária Refúgio 343 – responsável pela realização das entrevistas e preparação dos candidatos em Roraima. Só que desta vez, quem abraçou a chance foi a mulher da casa. Marianny participou de uma oficina preparatória e foi uma das 11 pessoas selecionadas para trabalhar como atendente numa rede de restaurante fast-food em Brasília. A interiorização dela, da família, e dos demais venezuelanos selecionados no processo seletivo com seus familiares, contou com o apoio da AVSI Brasil, através do projeto Acolhidos por meio do trabalho – que prevê moradia temporária equipada e suporte para alimentação diária durante três meses para todo o grupo interiorizado – um total de 22 pessoas.
A adaptação da família foi tranquila e, com Marianny trabalhando no período da tarde diariamente, Juan passou a cuidar dos filhos e dos afazeres da casa. “Temos o Javier (filho com três anos), que precisa de atenção constante e gosta de atividades, como andar de bicicleta, por exemplo. Então, costumo descer com ele para passear um pouco na rua e também acompanho as duas filhas adolescentes, que me ajudam em casa, quando não estão estudando pelo celular”, explica Juan. Ele também já saiu para conhecer o novo bairro e procura uma atividade de trabalho para que possa intercalar com o horário da esposa.
Hoje a família mora no apartamento garantido pelo projeto Acolhidos por meio do trabalho, numa região próxima ao trabalho de Marianny e, a partir do quarto mês – passado o período de experiência no trabalho – começará a arcar com os custos da casa por conta própria. “Estamos felizes aqui. Minha família está segura e nos sentimos acolhidos. Também conseguimos enviar ajuda para alguns parentes que estão na Venezuela e agora nossa próxima meta é conseguir mudar para uma casa que tenha quintal, e assim as crianças terão mais liberdade para sair um pouco de casa”, planeja a venezuelana.
Sobre as expectativas, Marianny também sonha em crescer profissionalmente e para isso planeja participar dos processos de carreira oferecidos na empresa. “Quero garantir que meus filhos tenham uma vida melhor. Que possam estudar, ter uma vida feliz e que sejam boas pessoas”, revela.
O projeto
O Acolhidos por meio do trabalho é implementado pela AVSI Brasil e Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), com o envolvimento da Fundação AVSI e AVSI-USA e financiado pelo Departamento de População, Refugiados e Migração (PRM) do Governo dos Estados Unidos. 222 venezuelanos já foram interiorizados de Roraima, desde o início do projeto, 124 deles para realizar atividades laborais nos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e no Distrito Federal. Os outros 98 são
integrantes familiares.